BOLSA VOLTA A NÍVEL DE MARÇO, DI INCLINA E DÓLAR RETOMA OS R$ 5,28 COM IOF E EXTERIOR

A semana termina com desvalorização de ativos brasileiros, à medida que o investidor sente a pressão interna e externa, ambas cada vez mais crescentes. No front doméstico, o mercado não gostou do plano do governo para garantir o lançamento do Bolsa Família repaginado, batizado de Auxílio Brasil. Embora tenha afastado o risco de um novo crédito extraordinário – tal qual usado para bancar o Auxílio Emergencial -, a solução de aumentar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) foi muito mal recebida. A visão de analistas é a de que a gestão Jair Bolsonaro pode entrar no modo ‘tudo ou nada’ para garantir a reeleição no ano que vem – cenário ainda difícil, pela fotografia do momento mostrada pelo Datafolha desta madrugada, mostrando liderança folgada do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Auxílio Brasil de 2022, aliás, ainda depende da resolução do impasse dos precatórios pela via congressual, porque a tensão do presidente com o Judiciário afastou a hipótese do arranjo “Fux-Dantas” (sublimite para essas despesas, com referência no gasto em 2016, corrigido pela inflação que reajusta o teto de gastos). Na cena externa, o foco de preocupação está nas duas maiores economias do mundo. Na China, cresce o temor do colapso da Evergrande, o que levou à injeção bilionária de liquidez no sistema pelo PBoC hoje. Ainda que observadores descartem um risco semelhante ao Lehman Brothers em 2008, o medo é que a crise da companhia arraste o gigantesco setor imobiliário chinês em um momento de desaceleração da economia do país como um todo. Nos Estados Unidos, dados mistos impõem cautela sobre efeitos da variante delta na recuperação da atividade. Com esse cenário, o Ibovespa mergulhou aos 111.439,37 pontos na sessão (-2,07%), o menor nível de fechamento desde 9 de março e uma queda semanal de 2,49%. O recuo do minério penalizou em especial a Vale, que cedeu 2,02% hoje e 12,70% na semana. Na renda fixa, a curva inclinou, computando ainda a preparação para a reunião do Copom, na esteira da correção de apostas mais ousadas de aperto monetário depois de declaração na terça-feira do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, indicando manutenção do plano de voo. No dólar, depois de um salto a R$ 5,34 na máxima, o mercado voltou à moderação de movimentos vistos nos últimos dias. A moeda à vista subiu a R$ 5,2821 hoje (+0,32%), ganho de 0,28% ante sexta-feira passada. Em Nova York, onde os investidores também se preparam para a decisão do Federal Reserve, o vencimento quádruplo de contratos de derivativos ligados a ações gerou volatilidade.

BOLSA

Após o breve respiro da segunda-feira, o Ibovespa emendou hoje a quarta perda e fechou a semana acumulando saldo negativo de 2,49% no intervalo, vindo de retração de 2,26% e de 3,10% nas semanas anteriores, elevando agora a 6,18% o recuo de setembro, a caminho de seu pior desempenho mensal desde março de 2020, então no auge do pânico de mercado frente ao início da pandemia, quando tombou 29,90% antes de iniciar reação, entre abril e julho seguintes. Nesta sexta-feira, os temores relacionados à economia chinesa se conjugaram ao inesperado aumento do IOF até o fim do ano, anunciado na noite de ontem como alternativa de financiamento parcial ao Auxílio Brasil, que substituirá o Bolsa Família e cujo fôlego é considerado essencial às chances eleitorais do presidente Jair Bolsonaro, o que reforça a atenção do mercado sobre a situação fiscal.

Assim, o índice da B3 manteve perdas acima de 2% em grande parte da sessão e encerrou o dia em baixa de 2,07%, aos 111.439,37 pontos, no menor nível de fechamento desde 9 de março passado, então aos 111.330,62 pontos. No intradia, foi hoje aos 111.156,65, menor nível desde o último 25 de março, quando chegou durante aquela sessão a 110.926,74 pontos, saindo hoje de máxima, na abertura, aos 113.794,04 pontos. O giro financeiro, reforçado pelo vencimento de opções sobre ações nesta sexta-feira, foi hoje a R$ 45,1 bilhões. O Ibovespa recua 6,37% no ano.

“O aumento do IOF vem numa hora inadequada: a economia apresenta sinais de acomodação do ritmo de crescimento, e provável queda desse ritmo no ano que vem. Estamos falando, no mercado, de um PIB (em alta) de 1% a 0,5% (em 2022), com poucas projeções atuais acima de 1%, o que significa uma desaceleração”, observa Nicola Tingas, economista-chefe da Acrefi. “O momento é de ajudar a economia porque, além de uma inflação elevadíssima, e de pressões de custo de energia elétrica, nós temos naturalmente o ajuste da taxa Selic para cima, para tentar combater a inflação do ano que vem e trazê-la para a meta. É uma política equivocada aumentar o custo (de crédito) na economia com inserção de tributos”, acrescenta.

“A causa (financiamento ao Auxílio Brasil) é nobre, necessária e bem-vinda, mas devia estar sendo financiada com redução de gastos, e, não, com aumento de tributação”, enfatiza Tingas. “Este aumento de IOF tem dois efeitos: maior custo de crédito, para a pessoa jurídica e a pessoa física, e inflação, mesmo que seja um efeito pequeno”, aponta o economista-chefe da Associação Nacional das Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento.

“Foram dois pregos no caixão, ontem à noite: o aumento do IOF, que resulta em desaceleração imediata da economia, por meio do crédito, e a aprovação, mais rápido do que se imaginava, da PEC dos Precatórios na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, quando o mercado preferia a opção menos pior, de alternativa negociada via CNJ (Conselho Nacional de Justiça), que parou de andar”, diz Flávio Aragão, sócio da 051 Capital, chamando atenção também para o dia de vencimento de opções sobre ações, aqui e no exterior (Nova York), o que naturalmente tende a resultar em mais volatilidade para os preços dos ativos.

“Guedes havia dito, há poucos dias, que não viria aumento de imposto, e acontece isso”, observa Aragão, referindo-se à participação do ministro da Economia em um evento nesta semana promovido pelo BTG Pactual, em que foi questionado sobre o assunto.

No exterior, o sentimento negativo com relação a efeitos sistêmicos negativos decorrentes de dúvidas sobre a solvência da Evergrande, gigante do setor imobiliário na China, permaneceu como pano de fundo para mais um dia de forte correção no minério de ferro, cujos preços no porto de Qingdao já vinham sendo impactados por iniciativas regulatórias das autoridades chinesas para cortar a produção de aço. Nesta sexta-feira, a tonelada de minério teve perda de quase 5%, negociada a US$ 101,95, vindo de queda nas casas de 8% e de 4%, respectivamente, nas duas sessões anteriores.

“Apesar do anúncio de distribuição de dividendos da Vale (R$ 8,10 por ação) oferecer (em tese) sustentação para a Bolsa, o derretimento do minério de ferro e a elevação do IOF para financiar o Auxílio Brasil, que deve elevar as tensões com a política fiscal brasileira, aumentaram os desafios (para o Ibovespa) na sessão”, observou em nota a Nova Futura Investimentos. Assim, Vale ON fechou o dia em baixa de 2,02%, a R$ 86,15, acumulando perda de 12,70% em setembro, que reduz a 4,81% o ganho que o papel ainda mantém no ano – na semana, Vale ON cedeu 9,13%.

“O minério de ferro despencou mais de 50% e cruzou o patamar dos US$ 100/ton, prejudicando o desempenho das principais extratoras globais, dentre elas a Vale e a BHP. Para o UBS, a correção foi mais rápida do que o esperado e o banco cortou em 12% o preço-alvo médio do minério em 2022 para US$ 89/ton, uma vez que a redução na demanda chinesa coincide com inventários nos portos 10% maiores no ano contra ano”, escrevem em relatório a estrategista de ações Jennie Li e os analistas internacionais Vinicius Araujo e Rafael Nobre, da XP.

Neste contexto, o setor de siderurgia também voltou a ser castigado (Gerdau PN -6,82%, segunda maior queda da carteira Ibovespa na sessão; CSN ON -4,73%; Usiminas PNA -5,31%) e as perdas em Petrobras ON e PN ficaram, respectivamente, em 4,57% (na mínima de hoje no fechamento) e 4,48%, em dia moderadamente negativo para as cotações do petróleo. Com o aumento do IOF, que passa a vigorar nesta segunda-feira (20) até o fim do ano, o segmento financeiro também esteve entre os perdedores do dia, em baixa de 1,80% (BB ON) a 3,61% (Bradesco PN) entre as maiores instituições. Banco Inter segurou a ponta negativa do Ibovespa na sessão, em queda de 7,02%, à frente de Gerdau PN (-6,82%) e Gerdau Metalúrgica (-5,59%). Na face oposta, Telefônica Brasil (+1,45%), Magazine Luiza (+1,22%) e Natura (+1,14%).

Apesar das dificuldades vistas especialmente nas últimas três semanas, o Termômetro Broadcast Bolsa desta sexta-feira mostra um mercado menos pessimista sobre o desempenho das ações no curtíssimo prazo. Entre os participantes, a percepção de baixa para o Ibovespa na próxima semana caiu para 7,69%, de 15,38% na pesquisa anterior, enquanto a de variação neutra subiu de 15,38% para 23,08%. A expectativa de alta manteve-se em 69,23%.

“A Bolsa está barata, mas exige cuidado para quem não tem estômago para grandes emoções no curto prazo”, diz Ana Sofia Monteiro, assessora de investimentos da PHI Investimentos. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:28

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 111439.37 -2.06944

Máxima 113794.04 -0.00

Mínima 111156.65 -2.32

Volume (R$ Bilhões) 4.51B

Volume (US$ Bilhões) 8.49B

17:35

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 111675 -2.38199

Máxima 114150 -0.22

Mínima 111400 -2.62

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JUROS

Os juros de médio e longo prazos fecharam a sexta-feira em alta e a curva ganhou inclinação tanto ante os ajustes de ontem quanto na semana. Os curtos encerraram estáveis, com o mercado já em compasso de espera pela decisão do Copom na semana que vem. Ao contrário da reação dos demais ativos, no mercado de juros, a elevação das alíquotas do IOF para operações de crédito para custear o programa Auxílio Brasil foi inicialmente absorvida sem traumas, priorizando a leitura pelo lado fiscal. Porém, ao longo do dia, com as críticas se avolumando, o assunto passou a trazer incômodo e, dada ainda a piora do ambiente internacional, as taxas inverteram o sinal de queda e passaram a subir.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 voltou a fechar acima dos 9%, subindo de 8,987% para 9,04%. A do DI para janeiro de 2025 encerrou em 10,21%, de 10,136% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2027 avançou e 10,554% para 10,63%, maior desde os 10,72% do último dia 9. O spread entre os contratos de janeiro de 2023 e janeiro de 2027 fechou em 159 pontos-base, ante 157 pontos ontem e 149 pontos na sexta-feira passada.

O estrategista-chefe da CA Indosuez Brasil, Vladimir Caramaschi, afirma que o clima está pesado nos mercados em geral, mas vê o comportamento dos juros mais ligado às questões políticas e às revisões pessimistas para a economia. O aumento das incertezas vindas da China, a princípio, segundo ele, afetaria mais a Bolsa, mas se as exportadoras de commodities brasileiras forem penalizadas, o problema pode chegar ao câmbio e, por consequência, aos juros. Aos indicadores fracos da economia chinesa que saíram esta semana, somam-se agora os temores com um eventual colapso da incorporadora imobiliária Evergrande, que tem dívidas de quase US$ 300 bilhões.

Além da cautela com a China, hoje o dado do sentimento ao consumidor americano abaixo do esperado ajudou no clima de ‘risk off’, ampliando as perdas de ativos emergentes e levando à virada das taxas de juros pelo aumento da pressão sobre o câmbio, que chegou perto dos R$ 5,35 nas máximas.

Por aqui, a opção do governo de bancar o Auxílio Brasil em 2021 pelo aumento temporário de impostos é vista como uma solução mais transparente sobre a fonte de custeio ao programa, ante as tentativas recentes de usar de contabilidade criativa na área fiscal, mas não quer dizer que seja boa. “Pode ser até melhor que outras alternativas, mas é um cheio danado de remendo e mais um sinal de que o mundo político está trabalhando muito mais pelo ano eleitoral do que pela estabilidade fiscal e que a equipe econômica está isolada”, disse Caramaschi.

A alta das alíquotas, a princípio, é válida de 20 de setembro a 31 de dezembro, mas pode se tornar permanente caso o governo não consiga fonte de recursos para o programa em 2022, a depender da saída a ser encontrada para a PEC dos precatórios e do futuro da reforma do Imposto de Renda no Senado.

O diretor da ASA Investments e ex-secretário do Tesouro Nacional, Carlos Kawall, diz que a medida reforça que as políticas econômica e fiscal estão a reboque do objetivo eleitoral do governo Bolsonaro. “Vai fazer de tudo que for preciso para colocar o interesse eleitoral na frente”, diz, ponderando que a discussão não é sobre o mérito do Bolsa Família, que é um bom programa.

O aperto no custo do crédito chega num momento em que as perspectivas para o desempenho da economia estão em franca deterioração, também em função do aperto da Selic que será necessário para reconduzir a inflação para as metas que ajuda a jogar algumas as previsões de PIB em 2022 abaixo de 1%. O Asa Investments já vê a taxa básica em 9%. “Mas, se continuarmos a ver pressão no câmbio não compensada por commodities, talvez tenha que ser mais que 9%. Uma taxa de 10% não é um absurdo”, diz Kawall.

Para o Copom da semana que vem, as previsões nos Departamentos Financeiros e na curva de juros estão bem ancoradas numa alta da Selic de 1 ponto porcentual. Agora o mercado aguarda pelas sinalizações do comunicado para ter uma ideia se o orçamento total do ajuste pode ser maior do que o previsto. (Denise Abarca – [email protected])

17:35

Operação   Último

CDB Prefixado 31 dias (%a.a) 6.03

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 5.15

Over Selic (%a.a) 5.15

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MERCADOS INTERNACIONAIS

Com incertezas sobre a retomada econômica ainda no pano de fundo, cenário que foi reforçado por um avanço abaixo do esperado do sentimento do consumidor dos EUA, as bolsas de Nova York fecharam em queda. A cautela também foi induzida pelo quadruple witching, dia em que vencem de forma simultânea quatro tipos de contratos de derivativos ligados a ações, o que tende a gerar volatilidade. Na semana, os principais índices acionários americanos acumularam perdas. Com foco já na decisão de juros do Federal Reserve da próxima quarta-feira, o dólar se fortaleceu ante os pares e os rendimentos dos Treasuries subiram. Analistas não esperam um anúncio oficial do ‘tapering’, mas aguardam uma sinalização maior sobre a retirada de estímulos. No mercado de commodities, o petróleo recuou, afetado pelo câmbio.

“Foi uma abertura sem brilho para os mercados dos EUA, com as ações caindo, já que os rendimentos de 10 anos dos EUA atingiram seus níveis mais altos em dois meses antes da reunião do Fed da próxima semana”, afirma o analista-chefe de mercados da CMC, Michael Hewson.

Nesse cenário, o índice Dow Jones encerrou a sessão com queda de 0,48%, a 34.584,88 pontos, o S&P 500 recuou 0,91%, a 4.432,99 pontos, e o Nasdaq cedeu também 0,91%, a 15.043,97 pontos. No acumulado da semana, as perdas foram de 0,07%, 0,57% e 0,47%, respectivamente. Analista da Oanda, Edward Moya menciona também o quadruple witiching como motivo para as perdas no mercado americano.

“Casos de covid estão subindo novamente em alguns Estados e há preocupações sobre como a economia reagirá a menos estímulos e um pacote econômico potencialmente menor do que o esperado”, diz o profissional da Oanda. Quase no fim do pregão, um painel da Administração de Alimentos e Medicamentos (FDA) votou contra a aplicação de uma terceira dose da vacina da Pfizer nos EUA, o que adiciona incerteza aos planos do governo Biden de reforçar a imunização no país.

Antes disso, a divulgação do índice de sentimento do consumidor americano, que subiu a 71,0 na leitura preliminar de setembro, mas ficou abaixo do previsto, havia mostrado o impacto do avanço da variante delta.

Os índices acionários da Europa, que chegaram a abrir em alta, foram contaminados pela queda em NY e terminaram a sessão majoritariamente em baixa. O índice pan-europeu Stoxx 600 cedeu 0,88%, a 461,83 pontos, enquanto o FTSE 100, da Bolsa de Londres, caiu 0,91%, a 6.963,64 pontos.

Ao longo do pregão, os investidores também continuaram atentos às notícias sobre a incorporadora chinesa Evergrande, que pode entrar em default. Para a LPL Financial, contudo, o caso não representa risco sistêmico como o banco americano Lehman Brothers, símbolo da crise financeira de 2008.

No mercado de renda fixa, a expectativa já era pela decisão de política monetária do Fed na próxima semana. “Economistas irão se fixar na previsão do gráfico de pontos atualizado para ver se algum membro antecipou um aumento nas taxas de juros para o final de 2022”, ressalta Moya, da Oanda. O mercado também deve buscar pistas sobre o ‘tapering’, mas o anúncio oficial do processo é esperado só para novembro. No horário de fechamento em NY, o retorno da T-note de 2 anos subia a 0,225%, o da T-note de 10 anos avançava a 1,376% e o do T-bond de 30 anos tinha alta a 1,909%.

O índice DXY, que mede a variação do dólar contra seis pares, por sua vez, registrou alta de 0,28%, a 93,195 pontos. “Nossa visão continua sendo que a inflação nos EUA permanecerá elevada por mais tempo do que o Fomc e os investidores atualmente antecipam, o que, por sua vez, deve apoiar rendimentos mais elevados nos EUA e um dólar mais forte”, afirma o economista Jonathan Petersen, da Capital Economics.

Uma retomada de parte da produção nos EUA, após o impacto de eventos climáticos, e o peso da valorização do dólar levaram o petróleo a registrar perdas. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o WTI para novembro fechou em baixa de 0,76%, a US$ 71,82 o barril, enquanto o Brent para o mesmo mês recuou 0,44%, a US$ 75,34 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). (Iander Porcella – [email protected])

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CÂMBIO

O fantasma de uma guinada populista do governo Jair Bolsonaro, materializado pelo aumento do IOF para bancar o Auxílio Brasil, e o fortalecimento global da moeda americana – em meio à espera do encontro do Federal Reserve e às preocupações com a economia chinesa – deram o tom dos negócios no mercado de câmbio local nesta sexta-feira (17).

O dólar já iniciou o dia em alta e, em uma escalada ao longo da manhã, correu até a máxima de R$ 5,3474 (+1,57%). Tudo sugeria que o real amargaria a lanterna entre as divisas emergentes e de países exportadores de commodities, que caíam em bloco. A febre compradora, contudo, cedeu ainda no fim da manhã, em meio à realização de lucros e ajuste de posições, o que vez a moeda se acomodar abaixo de R$ 5,30 ao longo da tarde.

Ao final da sessão, a moeda americana, que registrou mínima a R$ 5,2524, era negociada a R$ 5,2821, em alta de 0,32%. Com o avanço desta sexta-feira, o dólar encerra a semana com leve valorização (0,28%) e acumula alta de 2,13% em setembro.

No fim das contas, o dólar subiu mais em relação ao peso mexicano (+0,47%), considerado um principais pares do real, e ao rand sul-africano (+1,05) – este devolvendo parte dos ganhos recentes bem acima da média das demais divisas emergentes. O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis moedas fortes – subia cerca de 0,30% e operava acima da linha dos 93 pontos.

O head de câmbio da Acqua-Vero Investimentos, Alexandre Netto, observa que o real está longe do que seria considerado seu preço de equilíbrio e já carrega um prêmio de risco por causa dos problemas domésticos, fatores que limitariam o espaço para perdas mais agudas no curto prazo. “Mas o movimento mais forte de alta do dólar pela manhã mostra o quão sensível a taxa de câmbio está à questão política”, afirma Netto. “O aumento do IOF faz parte de um conjunto de medidas que reforçam a percepção de que o presidente Bolsonaro, que tem aprovação cada vez pior, pode embarcar num populismo fiscal”.

O governo surpreendeu o mercado com o anúncio do aumento do IOF até 31 de dezembro ontem à noite, em publicação simultânea à tradicional live de Bolsonaro às quintas-feiras. O decreto era explícito: a arrecadação adicional de R$ 2,14 bilhões é para bancar o Auxílio Brasil, a versão vitaminada do Bolsa Família. A Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) exige que toda despesa venha acompanhada de da fonte de custeio, e o governo, que quer pôr o Auxílio Brasil de pé ainda neste ano, encontrou a receita no IOF.

De onde vai vir o dinheiro para a continuidade do programa em 2022 ainda não se sabe. É preciso primeiro resolver a questão dos precatórios (cuja PEC tramita na Câmara) e da reforma do Imposto de Renda (que precisa ser apreciada pelo Senado) para saber como o programa vai ser bancado.

Para a economista-chefe do Banco Ourinvest, Fernanda Consorte, o aumento do IOF sugere ao mercado “maior probabilidade” de o governo adotar medidas populistas para tentar recuperar a popularidade, abalada como mostram as pesquisas de opinião. “O impasse sobre a questão do teto dos gastos permanece. Sem uma solução para os precatórios, qualquer ampliação de gastos fica comprometida. Não é à toa que o real se desvalorizou muito mais que o seus pares pela manhã”, afirma.

Ex-secretário do Tesouro Nacional e diretor da ASA Investments, Carlos Kawall afirma que o aumento do IOF reforça a visão de que a política econômica está a reboque dos objetivos eleitorais de Bolsonaro. “Isso está sendo contabilizado com outras medidas que o governo tem feito com o objetivo único de aumentar o Bolsa Família em um ano eleitoral, como a PEC dos precatórios e a reforma do Imposto de Renda”, disse.

Segundo Kawall, o efeito da postura do governo sobre a taxa de câmbio vai dificultar ainda mais o trabalho do Banco Central de ancoragem das expectativas de inflação. A ASA Investments espera que a taxa Selic termine o ciclo de alta em 9%. “Achamos que é 9%. Mas, se continuarmos a ver pressão no câmbio não compensada por commodities, talvez tenha que ser mais que 9%. Uma taxa de 10% não é um absurdo.”

Não bastassem os problemas domésticos, os ativos locais se deparam com ventos externos contrários. Na expectativa pelo comunicado de política monetária do Federal Reserve, no próximo dia 22, o mercado reduz a exposição a ativos de risco. Além de eventualmente anunciar o começo da redução da compra mensal de bônus (‘tapering’), o Fed trará atualização das expectativas de seus membros para início da alta de juros. A taxa dos Treasuries subiram em bloco hoje, com o ‘yield’ da T-note de 10 anos subindo mais de 3%, para a faixa de 1,37%.

O economista-chefe do Instituto de Finanças Internacional (IIF, na sigla em inglês), Robin Brooks, observa, ressalta que a piora dos ativos emergentes em meio à alta do rendimento dos Treasuries é um sinal para quem pensa que o tapering será um evento sem importância. “Se um pequeno salto aleatório nos rendimentos já provoca esse tipo de depreciação [das moedas emergentes], o anúncio do tapering e dados melhores americanos serão bem piores”, afirma Brooks, em comentário no Twitter.

Outro ponto de preocupação no mercado é a crise de solvência da segunda maior incorporadora da China, a Evergrande, e seus potenciais efeitos sobre a economia do gigante asiático e, por tabela, em todo o mundo. Em medida preventiva, o governo chinês anunciou injeção de 90 bilhões de yuans (cerca de US$ 14 bilhões) no sistema financeiro. Com as dúvidas em relação à produção de aço, os preços do minério de ferro (um dos carros-chefe da pauta de exportação brasileira) caíram hoje 4,91% no porto de Qingdao, na China, e já acumulam baixa de 21,4% na semana, dadas as incertezas sobre a produção siderúrgica.

Na B3, o dólar futuro para outubro subia 0,62%, a R$ 5,2980, com giro na casa de US$ 14 bilhões. (Antonio Perez – [email protected])

17:35

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.28210 0.3248 5.34740 5.25240

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0

DOLAR COMERCIAL 5299.500 0.64571 5358.000 5261.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5302.000 16/09