BOLSA PERDE 2,19% NA SEMANA E DÓLAR E DI SOBEM COM PIORA DE QUADROS INTERNO E EXTERNO

Cenário

A sessão entre o Dia da Independência e o fim de semana foi de liquidez bastante reduzida e ajustes nos preços dos ativos domésticos. Na Bolsa, os investidores optaram pela venda de ações, na esteira das perdas ontem em Nova York e de olho na fraqueza da economia da China - com efeito negativo nos preços das commodities - e nos sinais sobre a permanência dos juros em níveis elevados nos Estados Unidos. Ao final do dia, o Ibovespa fechou em baixa de 0,58%, aos 115.313,40 pontos, e com perda de 2,19% na semana. Já o dólar encerrou praticamente estável, cotado a R$ 4,9828 (-0,02%), mas com ganho de 0,86% na semana. No dia, o comportamento destoou da queda predominante no exterior, atribuída à realização de lucros após os fortes ganhos acumulados nas últimas semanas, mas revertida com o avanço dos juros dos Treasuries em meio a incertezas sobre os planos do Federal Reserve para a política monetária. Os juros futuros, por sua vez, registraram alívio nos prêmios de risco com ajustes técnicos, num movimento muito suave quando comparado ao forte ganho de inclinação da curva atribuído à piora da percepção de risco fiscal e externo nos últimos dias. O mercado já coloca atenção na semana que vem, quando saem números sobre a inflação dos EUA e brasileira, sem descuidar do aumento nos preços do petróleo ao maior nível em 10 meses. No exterior, os rendimentos dos Treasuries de longo prazo voltaram a subir. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,22%, o S&P 500 subiu 0,14% e o Nasdaq, 0,09%, com perdas na semana de até 1,93% no caso do índice de tecnologia.

•BOLSA

•CÂMBIO

•JUROS

•MERCADOS INTERNACIONAIS

BOLSA

O Ibovespa emendou a quarta queda consecutiva nesta sexta-feira, 8, em um movimento de ajuste à aversão global ao risco deflagrada na quinta-feira, 7, quando a B3 ficou fechada devido ao feriado da Independência. Com a fraqueza da economia da China e a perspectiva de juros altos por mais tempo nos Estados Unidos no radar, o índice fechou em queda de 0,58%, aos 115.313,40 pontos - menor nível desde 21 de agosto (114.429,35 pontos).

A referência da B3 passou toda a sessão em baixa, entre a máxima, de 115.979,43 pontos (-0,01%) - alcançada ainda na abertura, às 10h01 -, e a mínima, de 114.838,85 pontos (-0,99%). Devido ao feriado da véspera, a liquidez foi limitada, com giro financeiro de R$ 16,4 bilhões, menor do que nas últimas sextas-feiras. Segundo analistas, esse fator também contribuiu para a queda do índice, que, na semana, perdeu 2,19%.

Temores em relação à economia da China puxaram o recuo do Ibovespa nesta sessão, após a forte queda interanual das exportações e importações do país asiático divulgada na véspera - de 8,8% e 7,3%, respectivamente. Como reflexo, o índice de materiais básicos (IMAT) cedeu 1,37%, com a maior queda setorial. Vale ON (-1,90%) teve a maior pressão de baixa sobre o índice, em meio à desvalorização do minério de ferro (-2,07% em Dalian).

"A China está em um processo de desaceleração e, apesar das medidas econômicas, há muito ceticismo em relação à economia chinesa", diz a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack. "Isso acaba impactando negativamente a Vale, que também acompanhou o minério de ferro."

Petrobras ON (-0,78%) e PN (-0,36%) também foram destaques negativos da sessão, contrariando os ganhos do petróleo Brent (0,81%) e WTI (0,73%) e de pares como Prio ON (1,50%). Segundo Abdelmalack, a baixa nos papéis da empresa reflete a incerteza sobre a dinâmica dos preços domésticos de combustíveis, após a empresa ter alterado no início do ano a sua política de preços.

Com a queda das principais blue chips domésticas, a referência da B3 acabou contrariando o sinal moderadamente positivo dos índices de Nova York, que subiram entre 0,09% (Nasdaq) e 0,22% (Dow Jones).

O operador de renda variável da Manchester Investimentos Gabriel Mota afirma que a sessão desta sexta-feira foi marcada por uma correção defasada da Bolsa à aversão global ao risco observada na véspera. O profissional destaca que, além dos dados sobre a China, números de emprego dos Estados Unidos divulgados na quinta-feira mostraram um mercado de trabalho ainda forte, que pode sugerir manutenção dos juros altos no país.

"Ontem foi um dia bem negativo no mundo, com dados de emprego fortes nos Estados Unidos, que geraram uma aversão global ao risco e prejudicaram os ADRs brasileiro. Hoje, os ativos estão refletindo o dia de ontem", diz Mota, que atribui as perdas da Petrobras a um movimento de saída de investidores estrangeiros da Bolsa brasileira.

Segundo o operador, essa aversão ao risco também explica as quedas observadas em outros setores da B3, como o industrial (-1,20%) e de consumo (-0,68%). Em contrapartida, o setor financeiro encerrou o dia com queda menor (-0,11%), favorecido por uma leve alta em Itaú Unibanco PN (0,15%), que teve recuperação técnica após as quedas puxadas pelo limite ao juro do crédito do rotativo.

No fechamento da sessão, 27 dos 86 papéis que compõem o Ibovespa tiveram alta, com destaque para Marfrig ON (4,11%), Petz ON (3,86%), Yduqs ON (2,51%) e PetroReconcavo ON (1,47%), além de Prio ON. Outras 51 ações encerraram o pregão em baixa, lideradas por Embraer ON (-5,0%), Alpargatas PN (-4,10%), Magazine Luiza ON (-3,09%), Vibra ON (-2,36%) e Bradespar PN (-2,22%). (Cícero Cotrim - [email protected])

CÂMBIO

O último pregão da semana foi de estabilidade para o dólar na comparação com o real, com a moeda oscilando entre perdas e ganhos ao longo do dia, mas terminando a sessão praticamente inalterada, dada a falta de notícias e indicadores capazes de sanar as dúvidas do mercado quanto à trajetória dos juros americanos e o cenário fiscal brasileiro.

"Numa semana meio vazia de dados econômicos, o mercado fica nessa indecisão", disse Leandro Petrokas, diretor de Research e sócio da Quantzed.

No mercado à vista, o dólar terminou o pregão em baixa de 0,02%, a R$ 4,9828, enquanto no mercado futuro o contrato do dólar para setembro teve alta de 0,08%, a R$ 5,0012.

No acumulado da semana, a moeda americana acumulou ganho em relação ao real - de 0,86% no mercado à vista e de 0,68% no futuro.

Durante boa parte da sessão o movimento do dólar ante o real destoou do comportamento da moeda em relação a divisas emergentes ou ligadas a commodities. Lá fora, a moeda passou quase toda a sexta-feira em baixa, num movimento atribuído à realização de lucros após os fortes ganhos acumulados nas últimas semanas.

No entanto, conforme o fim da sessão se aproximava, o dólar ganhou força no exterior e devolveu as perdas, acompanhando a reversão do movimento dos juros dos Treasuries, que caíam no início do dia e depois passaram a subir.

Essa inversão está relacionada às dúvidas dos investidores em relação a qual devem ser as próximas decisões do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, com o clima de incerteza ganhando mais espaço na mente dos investidores antes da divulgação de números sobre a inflação do país, na quarta-feira (13) e diante do aumento nos preços do petróleo ao maior nível em 10 meses.

Ao longo da semana, tanto o dólar quanto as taxas dos Treasuries ganharam fôlego após dados mostrarem que a economia americana e principalmente o setor de serviços seguem fortes mesmo com o duro aperto monetário em andamento no país.

Com isso, o mercado ficou mais inclinado a esperar uma nova alta da taxa básica de juros dos Estados Unidos este ano, embora no momento a aposta majoritária ainda seja de manutenção das taxas pelo menos até janeiro do ano que vem.

"O tom das notícias econômicas nesta semana provavelmente vai deixar as autoridades em modo de espera. Os consumidores estão mantendo o setor de serviços azeitado, mesmo com o resfriamento do mercado de trabalho. São boas notícias para o Fed, mas os preços mais altos da energia continuam sendo um ponto de incerteza que exigirá monitoramento para não desfazer o progresso obtido até agora na inflação", disse Shernette McLeod, economista da TD Economics, em relatório.

O real, porém, se destacou no mercado de câmbio hoje por ter mantido uma margem de oscilação mais estreita que a de seus pares em relação ao dólar - não se distanciou da estabilidade durante o pregão inteiro. Contribuíram para isso tanto a proximidade do feriado, que baixou o volume de negócios, quanto a cautela do mercado em escolher uma direção, dado o pano de fundo doméstico.

No Brasil, a incerteza em torno do ajuste nas contas públicas - que ganhou um novo elemento diante das notícias de que o governo avalia uma proposta de reforma administrativa para cortar gastos - limita o apetite por risco e as perdas do dólar.

Até então, o plano de ajuste fiscal era baseado essencialmente em medidas que aumentavam a arrecadação, mas consideradas custosas para o governo em termos de capital político e incapazes de conduzir ao prometido déficit primário zero em 2024.

"O fiscal acabou pesando um pouco. Minha leitura é de que realmente faltam planos concretos do Executivo em relação ao fiscal um pouco mais robusto. Tudo parece estar ainda no campo das ideias", disse Petrokas.

Por outro lado, o receio de que a inflação possa ganhar força com a alta nos preços do petróleo - e por tabela nos preços dos combustíveis, a depender do repasse feito pela Petrobras - evita que o dólar ganhe muito mais força, já que a aceleração na alta dos preços poderia deixar a queda dos juros mais vagarosa por aqui.

O reajuste mais recente, feito no mês passado, deve começar a dar as caras no IPCA de agosto, que será divulgado na próxima terça-feira.

"Na semana que vem tem IPCA. É sempre importante acompanhar como vem a inflação, embora ela já venha numa trajetória de arrefecimento que habilitou o Banco Central a iniciar o processo de redução da Selic", disse Petrokas, ressaltando que se as leituras de inflação do Brasil e dos Estados Unidos vierem distantes do previsto, o estresse no mercado pode

JUROS

Os juros futuros percorreram a sessão em baixa moderada, refletindo ajustes técnicos após a volta do feriado do Dia da Independência, uma vez que a agenda e o noticiário estiveram hoje esvaziados. Players se desfizeram de parte das posições de proteção montadas antes da pausa de ontem, dada a possibilidade de eventos negativos no exterior enquanto o mercado por aqui estivesse fechado, o que trouxe alívio aos prêmios de risco. Mas o movimento foi muito suave quando se considera o balanço da semana, marcada por forte ganho de inclinação da curva atribuído à piora da percepção de risco fiscal e externo nos últimos dias.

Nesta sexta-feira cravada entre o feriado e o fim de semana, a liquidez foi baixa, como era de se esperar. Às 17h18, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2025 estava em 10,55%, de 10,59% na quarta-feira, e a do DI para janeiro de 2026 caía de 10,28% para 10,22%. O DI para janeiro de 2027 projetava taxa de 10,46% (10,50% na quarta-feira) e a do DI para janeiro de 2029, 10,98%, de 11,00%. O DI para janeiro de 2031 tinha taxa de 11,26%, ante 11,28%.

O recuo das taxas hoje foi discreto e pouco maior nos contratos até o miolo da curva. A ponta longa apresentou queda marginal nos vencimentos mais líquidos, em novo dia de avanço da T-Note de dez anos e real mais pressionado que os pares e, ainda, mantidas as preocupações com o cenário fiscal. Tal contexto vem impondo aumento da inclinação, com o diferencial entre os DIs para janeiro de 2025 e janeiro de 2029 encerrando a semana em 43 pontos-base, cerca de 20 pontos acima do fechamento da sexta-feira passada, quando havia sido de 22 pontos-base.

O estrategista de renda fixa da BGC Liquidez Daniel Leal explica que os feriados nos EUA e no Brasil nesta semana reforçaram as posições de hedge montadas já numa curva pressionada pelos riscos externo e fiscal. "Então, essa melhora hoje vem do fato de que o mercado vinha se protegendo. Mas lá fora o cenário segue muito ruim e aqui acabou da lua de mel do mercado com o governo e do Executivo com o Legislativo", disse, argumentando que a reforma ministerial desagradou quem saiu e não agradou quem entrou.

Os ruídos com relação à possível mudança na meta de zerar o déficit em 2024 também deixam o investidor na defensiva. "Seria algo muito ruim mudar agora, antes mesmo de o governo tentar conseguir as receitas para entregar o objetivo. Se por exemplo já flexibilizasse para déficit de 0,5% do PIB, no ano que vem seria ainda pior, podendo ir para -1,0%", acrescentou.

Lá fora, o risco de recessão nos Estados Unidos em função da rigidez do Federal Reserve com relação ao combate à inflação e dúvidas sobre a economia da China somam-se agora ao avanço dos preços do petróleo, que vão se firmando acima de US$ 90 no caso do Brent, que é referência para a Petrobras. O barril para novembro fechou hoje a US$ 90,65, maior cotação desde novembro.

O desempenho da commodity acende luz amarela para os preços internos dos combustíveis e, consequentemente para a inflação. "A questão da gasolina é bem relevante. A Petrobras anunciou aumento há pouco tempo e deve segurar um pouco novo eventual reajuste. É uma medida impopular", diz Leal.

Ainda nos combustíveis, as distribuidoras preparam aumentos do preço do gás de cozinha este mês em função do dissídio dos trabalhadores. Por fim, entrou no radar um possível efeito dos estragos causados pela passagem do ciclone no Rio Grande do Sul sobre preços de alimentos.

O cenário inflacionário de curto prazo mais negativo praticamente fecha as portas para uma ampliação do ritmo de cortes da Selic para 75 pontos-base nas próximas reuniões do Copom, mas, por outro lado, não deve ser o suficiente para reduzir a dose para 25 pontos. "O petróleo e o câmbio acabam atrapalhando, mas dá para ir com 50 pontos com tranquilidade", diz o estrategista da BGC.

Na Warren Rena, Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe, chama a atenção para o fato de que a inclinação dos DIs janeiro de 2025 e janeiro de 2029 chegou a 40 pontos mesmo com o mercado passando a atribuir baixa probabilidade de intensificação do ritmo de ajuste da Selic e a incorporar taxa terminal de 9,5%. "Avaliamos que, ao longo dos próximos meses, a inclinação da curva de juros doméstica continuará bastante dependente do comportamento dos yields globais e da percepção do mercado sobre os riscos fiscais domésticos e a condução da política monetária", avalia, em relatório distribuído a clientes. (Denise Abarca - [email protected])

MERCADOS INTERNACIONAIS

Os mercados acionários de Nova York viram pouco impulso nesta sessão, enquanto investidores se posicionam para o período de silêncio dos dirigentes do Federal Reserve (Fed). A desaceleração do crédito ao consumidor nos EUA em julho e revisão para baixo do dado de junho também não ajudaram o apetite por risco, já contido diante dos recentes sinais de desaceleração na China e na Europa. O petróleo se destacou entre os ativos de risco, subindo ao maior patamar em 10 meses ainda na repercussão da extensão dos cortes da Rússia e da Arábia Saudita. O dólar se valorizou ante iene, euro e libra, mas os rendimentos dos Treasuries não seguiram direção única.

As bolsas de Nova York oscilaram perto da estabilidade antes de fecharem em leve alta, mas acumularem perdas na semana, com os mercados se ajustando antes dos dados de inflação nos EUA na próxima semana, que podem alterar as expectativas para a política monetária do Federal Reserve nos próximos meses, e diante dos sinais de fraqueza econômica na China e na Europa. A ação da Apple reverteu o movimento baixista dos últimos dias, mas não chegou a recompor as perdas, registrando leve ganho de 0,35% nesta sessão. O índice Dow Jones avançou 0,22%, o S&P 500 teve alta de 0,14% e o Nasdaq ganhou 0,09%.

Nos EUA, dados de crédito ao consumidor mostraram avanço menor que no mês anterior. A Oxford Economics disse, após a publicação, esperar que o crescimento do crédito continue desacelerando. A consultoria prevê um esfriamento nos gastos do consumidor e padrões de crédito mais rígidos em cartões de crédito e empréstimos para aquisição de automóveis.

O dólar subiu ante moedas principais, de olho nos diferenciais de juros entre os EUA, onde o mercado de trabalho dá sinais de resiliência, e outras economias avançadas. Neste fim de tarde, o dólar era cotado a 147,85 ienes, o euro valia US$ 1,0700 e a libra, US$ 1,2456. Já os juros dos Treasuries operam mistos. O rendimento da T-note de 2 anos subia a 4,965%; o da T-note de 10 anos fica estável em 4,259% e o do T-bond de 30 anos caía a 4,333%.

O petróleo acumulou ganhos de 2% na semana, com o prolongamento da restrição da oferta saudita e russa compensando o pessimismo com a demanda global. Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o petróleo WTI para outubro fechou em alta de 0,73% (US$ 0,64) a US$ 87,51 o barril. O petróleo Brent para novembro, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), fechou com ganhos de 0,81% (US$ 0,73), a US$ 90,65 o barril. "Ninguém tem dúvida de que a Opep+ manterá o mercado apertado no inverno (no hemisfério norte)", comentou o analista da Oanda Edward Moya, que calcula que os cortes da Opep+ aumentarão o déficit da oferta global a perto de 2 milhões de barris por dia. (Maria Lígia Barros - [email protected])

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