BOLSA APAGA PERDAS COM NY, ENQUANTO DI CONSOLIDA APOSTA EM SELIC TERMINAL A 13,75%

O entendimento de que o Banco Central terá de ser mais duro no fim do ciclo de aperto monetário somou-se a outros fatores para penalizar o mercado de ações doméstico durante boa parte do dia. Além da aversão ao risco externa, a Bolsa sofreu com a queda forte das ações da Petrobras (ON -2,85% e PN -2,92%), envolta em mais uma troca de comando da estatal. Mas as perdas do Ibovespa foram sendo aparadas ao longo da tarde e o índice ganhou ímpeto com ajuda de Vale (ON +1,35%), siderúrgicas (CSN ON +1,60%) e bancos (Bradesco PN +2,10%). Assim, terminou em 110.580,79 pontos (+0,21%). Do exterior, onde a volatilidade tem sido a regra do jogo, a fuga do risco perdeu força e abriu espaço até para a alta de 0,15% do Dow Jones no fim da sessão. Até mesmo o Nasdaq diminuiu a queda, saindo de perdas na faixa de 4% para um fechamento de -2,35%. Ações de companhias de redes sociais foram a âncora do índice de tecnologia, após o Snap (-43,08%) sinalizar que não deve bater suas metas de lucro e receitas. O pano de fundo das perdas fortes das techs têm sido as incertezas quanto ao ajuste monetário dos Estados Unidos, com esperadas pistas na ata do Federal Reserve (Fed, o BC dos EUA) amanhã. Aqui no Brasil, por sua vez, o entendimento do mercado é que o BC pode ter de pesar a mão um pouco mais na Selic terminal em meio à surpresa inflacionária atestada pelo IPCA-15 e a percepção de que o pacote de medidas anti-inflacionárias do governo e do Congresso pode não atingir o efeito esperado. A curva do DI apontou, no fim do dia, chance de a taxa final de juros ser de 13,75%, contra 13,50% esperado até ontem. Mas mais do que isso: a subida forte dos contratos intermediários sugerem que o investidor adiou a aposta de quando o juro começará a cair no País. O DI para janeiro de 2024 rompeu de novo a marca de 13%, depois de uma semana operando abaixo desse nível. Por fim, o dólar à vista terminou o dia cotado a R$ 4,8123 (+0,14%), à medida que o mercado de câmbio tenta encontrar um patamar de acomodação. Contam a favor do real a taxa de juros doméstica elevada e a provável manutenção de preços das commodities em níveis altos, com relaxamento de medidas sanitárias na China e disposição do governo chinês em estimular a atividade. De outro lado, episódios de aversão ao risco, diante de temores de ‘estagflação’, e um dólar globalmente forte em razão da alta de juros nos EUA jogam contra a moeda brasileira.

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•CÂMBIO

BOLSA

Uma combinação de fatores negativos – nova troca de comando na Petrobras, IPCA-15 acima do esperado para maio e fracas leituras sobre a atividade econômica nos Estados Unidos e na Europa, além dos casos de Covid em Pequim, China – mantinha o Ibovespa em baixa desde a abertura desta terça-feira. Ainda assim, a referência da B3 conseguiu não apenas preservar a linha de 109 mil pontos como recuperar, no fim da tarde, a marca dos 110 mil, vista no dia anterior em fechamento pela primeira vez desde 25 de abril. Na máxima, foi hoje aos 110.635,27 pontos, em alta de 0,26%.

Após ter tocado na mínima os 108.399,23 pontos, saindo de abertura aos 110.340,07, o Ibovespa virou e mostrava ao final do dia leve ganho de 0,21%, a 110.580,79 pontos, com giro financeiro a R$ 30,5 bilhões. Na semana, sobe 1,93% e, no mês, 2,51% – no ano, o avanço é de 5,49%. Entre as blue chips, destaque para Petrobras ON e PN, em queda respectivamente de 2,85% e 2,92% no fechamento. Por outro lado, Vale ON teve alta de 1,35% e o desempenho dos grandes bancos também foi positivo (Bradesco PN +2,10%, Itaú PN +1,51%), à exceção de BB ON (-0,42%).

Ao fim, o desempenho mais firme de mineração e siderurgia (CSN ON +1,60%, na máxima do dia no fechamento), assim como de utilities (Cemig PN +2,23%; Eletrobras PNB +2,04%, Eletrobras ON +1,99%, ambos os papéis também nos picos da sessão no enceramento), e dos grandes bancos, prevaleceu sobre as perdas em Petrobras, que se acomodaram abaixo de 3% no fechamento. Na ponta do Ibovespa, PetroRio (+3,90%), Equatorial (+3,56%) e 3R Petroleum (+3,39%). No lado oposto, CVC (-6,30%), Azul (-5,78%) e Embraer (-5,61%).

Pela manhã, “o IPCA-15 veio acima das expectativas, a 0,59% frente a 0,45% de expectativa para maio, apesar da redução em relação ao mês anterior pelo efeito da bandeira tarifária de energia elétrica. A difusão continua bastante elevada, apesar de ter havido também uma desaceleração”, diz Eduarda Korzenowski, economista da Somma Investimentos. “Tem havido surpresas positivas pelo lado da atividade, mas pelo lado da inflação as surpresas continuam negativas”, acrescenta a economista, que espera novo aumento da Selic na próxima reunião do Copom, e “muito provavelmente com porta aberta para novos ajustes”.

Ela chama atenção também para os receios persistentes quanto à desaceleração econômica não apenas nos Estados Unidos, mas também na Europa, e para a cautela suscitada desde a abertura dos negócios por nova troca de comando na Petrobras, anunciada na noite de ontem.

“Após 40 dias, uma nova troca. Um canetaço [para mudar a política de preços] seria um tiro no pé para o próprio ministro Guedes [da Economia, a quem o novo presidente indicado para a Petrobras, Caio Paes de Andrade, era subordinado, como secretário de Desburocratização do Ministério]”, diz Arthur Schneider, responsável pela distribuição de produtos na Monte Bravo Investimentos. Ainda assim, em Nova York, pela manhã, os recibos da Petrobras caíam 12% antes da abertura dos negócios na B3.

“O mercado se pergunta: qual o motivo de uma troca tão rápida? A última era ainda bem recente e, além disso, já existe uma defasagem de preços para a gasolina e o diesel em relação à paridade internacional. E chegando nesse momento, perto da eleição, a incerteza cresce quanto à continuidade da política de preços da empresa”, diz Romero Oliveira, head de renda variável da Valor Investimentos.

“A percepção de risco sobre a estatal cresce visto que, apesar dos bons resultados apresentados no último trimestre em relação ao lucro, ao operacional e à distribuição de dividendos, houve uma série de trocas recentes e o mercado enxerga isso como tentativa de interferência na tomada de decisões da estatal”, conclui Oliveira.

“Pelo lado técnico, o indicado é muito capacitado, da equipe do Guedes e tudo mais. Mas quando se olha pelo lado do investidor, essa constante alteração de diretorias demonstra, de alguma forma, que o governo quer interferir no preço do combustível. O grande mote é o ano eleitoral, com pressão inflacionária grande – mas o responsável é a commodity, em nível elevado no mundo inteiro”, diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos.

“Interferência do governo é ruim para a empresa e para o investidor. Mas mudança em política de preços não haverá, porque depende de mudança no estatuto da companhia”, acrescenta Moliterno. Ele considera que o cenário mais provável é de “espaçamento” dos repasses e reajustes de preços, em até três ou quatro meses – o que pode ser positivo ou negativo para a Petrobras, a depender da trajetória das cotações da commodity. “Ruído, de qualquer forma, não é bom para os investidores.”

O presidente da Petrobras, José Mauro Coelho, deve permanecer no comando até a Assembleia Geral Extraordinária (AGE) da estatal, segundo apurou o Broadcast, no Rio. A expectativa é de que a assembleia seja convocada amanhã, na reunião do conselho de administração.

Nos corredores do Fórum Econômico Mundial, em Davos, o ministro da Economia, Paulo Guedes, evitou falar da nova mudança de comando da Petrobras, reporta o enviado especial do Broadcast, Altamiro Silva Junior. Nas reuniões privadas que tem feito, o ministro afirmou que não tem sido perguntado sobre a empresa. “O presidente [Jair Bolsonaro] escolhe o ministro [Adolfo Sachsida], e o ministro escolhe o presidente da Petrobras”, disse Guedes em conversa com jornalistas.

O conselho da empresa ratifica o nome escolhido e a diretoria da estatal, completou Guedes. “E eles definem a política de preço [dos combustíveis]”, disse também o ministro. José Mauro Ferreira Coelho foi o terceiro presidente da estatal no governo Bolsonaro, sucedendo Joaquim Luna, que também caiu por divergências com o Planalto sobre a política de preços dos combustíveis, que busca ajuste ao câmbio e aos preços internacionais da commodity.

Por sua vez, o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, afirmou hoje que o novo presidente da Petrobras precisa de autonomia para trocar as diretorias da empresa, e o vice-presidente, Hamilton Mourão, disse que o governo federal deseja dar “previsibilidade” aos reajustes dos combustíveis anunciados pela Petrobrás.

“Tivemos a troca do comando do ministério, para o ministro (Adolfo) Sachsida (das Minas e Energia). Acho que a política que diz respeito a esse setor no país, apesar de a Petrobras ter independência de gestão, tem que estar completamente alinhada com o novo ministro. Então, já era esperado”, disse Nogueira em entrevista ao SBT News.

Para piorar, os dados do dia nos Estados Unidos, e também na Europa, não contribuíram e mantiveram as três referências de Nova York no vermelho ao longo da sessão, assim como as principais praças do velho continente, onde os índices de atividade PMI, nas prévias de maio, decepcionaram na zona do euro, na Alemanha e também no Reino Unido, no momento em que o Banco Central Europeu (BCE) se prepara para elevar os juros de referência no bloco da moeda única.

Nos Estados Unidos, “as leituras preliminares do PMI mostraram uma desaceleração mais acentuada na atividade econômica à medida que as pressões inflacionárias persistem”, aponta em nota Edward Moya, analista da OANDA em NY, na qual observa que a atividade manufatureira caiu para mínima de três meses, “e o que surpreendeu muitos foi uma deterioração ainda maior na atividade do setor de serviços”, de 55,6 para 53,5, em mínima de quatro meses.

“A cartilha que a maioria dos ‘traders’ estava usando era que a produção industrial enfraqueceria, mas isso deveria beneficiar o setor de serviços”, acrescenta o analista da OANDA. “Parece que as pressões inflacionárias estão tendo um impacto pior na economia dos EUA e que o crescimento da demanda está enfraquecendo acentuadamente”, diz Moya, chamando atenção também para o índice de atividade industrial regional do Fed de Richmond, em leitura “abismal, bem abaixo da previsão mais pessimista”. (Luís Eduardo Leal – [email protected])

17:27

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 110580.79 0.21294

Máxima 110635.27 +0.26

Mínima 108399.23 -1.76

Volume (R$ Bilhões) 3.14B

Volume (US$ Bilhões) 6.50B

17:30

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 111245 -0.19289

Máxima 111410 -0.04

Mínima 109135 -2.09

MERCADOS INTERNACIONAIS

A cautela predominou nos mercados internacionais nesta tarde, com investidores preocupados com o enfraquecimento do crescimento econômico global. Em Wall Street, os principais índices acionários operaram no vermelho durante quase todo o pregão, mas encontraram espaço para reduzir perdas no fim dos negócios e o Dow Jones fechou no positivo. As ações da Snap recuaram mais de 40% e puxaram outras gigantes da tecnologia e comunicação, como Meta e Alphabet. Com a fuga de risco, os juros dos Treasuries recuaram e o dólar ficou misto ante rivais. O petróleo caiu, com impasse entre os Estados-membros da União Europeia e a Hungria sobre um embargo à commodity russa. Nos Estados Unidos, mais 40 milhões de barris, já anunciados pelo presidente Joe Biden, foram liberados das reservas estratégicas de petróleo para venda. O governo dos EUA ainda informou que não renovará a licença que permite à Rússia pagar investidores americanos que adquiriram ativos do país – e que vence amanhã -, alimentando o risco de default russo.

As ações nos EUA perderam rapidamente os ganhos de ontem, depois que dados no país sinalizaram fragilidade da economia. “Tudo está enfraquecendo em um ritmo mais rápido do que qualquer um poderia esperar e isso não é um bom presságio para o consumidor americano e para as perspectivas de curto prazo para as ações”, diz o analista da Oanda Edward Moya.

A Snap, por exemplo, afirmou que irá adiar algumas das suas contratações e que irá avaliar o restante do orçamento para 2022 com o intuito de economizar em custos adicionais. A empresa alertou para as questões macro nos EUA, como alta da inflação. Seus papéis recuaram 43,08% nesta sessão, e foram acompanhados por gigantes do setor de tecnologia e comunicação, à medida que parece estar claro que a maioria das economias não conseguirá evitar o cenário macroeconômico conturbado, diz Moya. Meta (-7,62%), Apple (-1,92%), Amazon (-3,21%), Microsoft (-0,40%) e Alphabet (-4,95%) ficaram no vermelho. A Boeing (-3,76%) e companhias aéreas, como American Airlines (-7,46%) e United Continental (-7,13%), também tiveram recuos expressivos.

Nesta sessão, o Nasdaq caiu 2,35%, a 11.264,45 pontos, e o S&P 500, 0,81%, a 3.941,48 pontos. O Dow Jones, porém, virou para o positivo próximo ao horário de fechamento e encerrou o dia com alta de 0,15%, a 31.928,62 pontos.

A Capital Economics prevê que o preço das ações nos EUA deve cair ainda mais nos próximos 12 meses, ao menos, enquanto o dólar irá sofrer um novo rali. Para o economista para mercados Thomas Mathews, os resultados mais recentes das companhias seguraram o mercado acionário até o momento, no entanto, o pivô ‘hawkish’ do Federal Reserve (Fed) foi tão rápido que sua pressão sobre as avaliações das ações mais do que compensou a alta nos preços dos ativos proveniente do crescimento robusto dos lucros.

Hoje, porém, o dólar ficou sem sinal único ante moedas competitivas. O índice DXY fechou com queda de 0,21%, a 101,857 pontos, enquanto o euro subia a US$ 1,0739 e a libra caía a US$ 1,2537. Analista na Western Union, Joe Manimbo afirma que o mercado cambial tem girado principalmente sobre as expectativas em relação às decisões monetárias de bancos centrais. O rublo russo, por sua vez, atingiu o maior nível em quatro anos contra a divisa americana, dados os impulsos garantidos pelo governo local – no horário citado, o dólar caía a 57,160 rublos russos, de 58,610 rublos no fim da tarde de ontem. Sem que estrangeiros possam vender seus ativos russos e repatriar lucros, a taxa de câmbio não tem qualquer significado, afirma o BBH. O Departamento do Tesouro dos EUA informou que não irá renovar a licença que permite que a Rússia pague investidores americanos até amanhã, às 13h01 (de Brasília). Com as sanções atuais, a medida pode levar Moscou ao calote, até agora evitado.

Na renda fixa, o juro da T-note de 2 anos caía a 2,491%, o da T-note de 10 anos recuava a 2,754% e o do T-bond de 30 anos tinha baixa a 2,973%, no fim da tarde em Nova York. O BMO Capital Markets afirma que parte do movimento se dá com a evidência de que o aperto monetário pelo Fed e as taxas mais altas de hipoteca estão começando a esfriar o mercado imobiliário, como desejado, além de operadores terem se decepcionado com o dado de vendas de novas moradias – que caíram 16,6% em abril, bem acima do esperado. Por sua vez, o leilão de US$ 47 bilhões em T-notes de 2 anos teve reação marginal do mercado, depois de registrar retorno de 2,519% e demanda acima da média recente.

O petróleo também fechou em baixa, com o WTI para julho tendo caído 0,47% (US$ 0,52), a US$ 109,77 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e Brent para agosto recuado 0,08% (US$ 0,09), A US$ 110,69 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). A Comissão Europeia espera que haja aprovação do embargo ao petróleo russo “nos próximos dias”, segundo a CNBC, mas o premiê húngaro, Viktor Orbán, descartou debater o assunto na próxima semana, segundo o Financial Times. Ainda, os EUA notificaram a venda de mais 40,1 milhões de barris de petróleo, que já estavam no planejamento de Biden. (Ilana Cardial – [email protected])

JUROS

A leitura do IPCA-15 de maio continuou sustentando os juros em forte alta durante à tarde, especialmente os contratos do miolo da curva, mais sujeitos aos impactos da política monetária de curto prazo. A taxa de inflação bem acima da mediana das estimativas e a avaliação ruim dos preços de abertura provocaram ajuste no quadro de apostas para a Selic, colocando em xeque a percepção deixada pelas declarações do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, de que o ciclo de elevação terminaria em junho. Ainda que menor do que a dos vértices intermediários, a alta na ponta longa superou 20 pontos, refletindo o clima de risk off no exterior.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2023 fechou em 13,41%, de 13,269% ontem no ajuste, o DI para janeiro de 2024 voltou aos 13,00%, de 12,765% ontem no ajuste. A taxa do DI para janeiro de 2025 encerrou a sessão regular em 12,26%, de 12,029% ontem. A do DI para janeiro de 2027 voltou a 12%, fechando em 12,01%, de 11,774%.

Desde ontem à tarde, quando as taxas curtas zeraram a queda e passaram a rondar a estabilidade, o mercado já trabalhava com a possibilidade de um número mais salgado para a inflação, mas a realidade conseguiu, ainda assim, surpreender. O IPCA-15 de 0,59% superou em 0,14 ponto porcentual a mediana das estimativas de 0,45%, de 1,73% em abril, acumulando 12,2% em 12 meses.

“A composição foi extremamente desfavorável. A queda expressiva na energia elétrica não foi capaz de atenuar as fortes elevações de itens subjacentes, ampliando os riscos de que tenhamos inflação elevada por mais tempo”, avalia Felipe Sichel, sócio e economista-chefe do Modal, para quem a leitura do dado corrobora a projeção de mais duas elevações de 50 pontos-base na Selic, terminando o ano em 13,75%.

Este também é o nível de taxa terminal para o qual a curva do DI se ajustou, apontando 100% de chance de aumento de 50 pontos em junho, como ontem, e entre 85% e 90% de probabilidade para a reunião de agosto (entre 10% e 15% de chance de 25 pontos). Ontem, para o Copom de agosto, a curva indicava entre 65% e 70% de probabilidade de elevação de 25 pontos e entre 30% e 35% de chance de manutenção. Os cálculos são da Greenbay Investimentos.

O IPCA-15 vem num momento em que o mercado embarcava na ideia de apenas mais uma alta da Selic em junho, depois do diretor Bruno Serra dizer que a preferência da autoridade monetária era por menos volatilidade da Selic, sugerindo que o plano de voo seria, em vez de altas adicionais, manter a taxa num patamar elevado por um tempo maior.

Para o economista-chefe do Banco Original, Marco Antonio Caruso, é fato que o IPCA-15 não traz conforto para o BC parar de subir juros, mas, ao mesmo tempo, avalia que qualquer que for o momento escolhido para fechar o ciclo a inflação estará desconfortável porque a desaceleração será muito lenta. “Está mais com cara de platô do que de pico”, disse, sobre o acumulado o índice em 12 meses. Por isso, não alterou sua projeção de apenas mais uma alta de 50 pontos em junho e prefere esperar para ver qual será a próxima comunicação do BC. “Este fim de ciclo tem muito mais de arte do que de Excel”, opinou.

Apesar do IPCA-15, o banco JPMorgan reduziu de 9,1% para 8,7% sua estimativa de IPCA em 2022, incluindo em seu cenário-base a aprovação da proposta de teto de 17% na alíquota de ICMS sobre energia e combustíveis, cujo impacto esperado é de -0,7 ponto para a inflação no ano. Ao mesmo tempo, retirou das premissas a perspectiva de reajuste da gasolina no curto prazo, depois da troca de comando da Petrobras anunciada ontem.

O projeto do ICMS pode ser votado ainda hoje na Câmara e a expectativa do mercado é positiva, mas no Senado o quadro parece ser mais difícil, pela pressão dos governadores, que terão de abrir mão de altos valores de arrecadação. Segundo Caruso, o risco de recomposição das margens de lucros pode mitigar o efeito sobre os preços.

Já a redução do imposto de importação para alguns produtos, anunciada ontem pelo governo, não mexeu com o mercado, dado o ceticismo sobre qualquer impacto na inflação. Para os especialistas, a medida tem caráter mais político, de resposta à escalada dos preços, do que econômico.

No exterior, o clima de aversão ao risco trazido por dados fracos de atividade nos Estados Unidos e Europa, que alimentaram o debate sobre a estagflação global, contaminou a ponta longa. “Parece que as pressões inflacionárias estão tendo um impacto pior na economia dos EUA e que o crescimento da demanda está enfraquecendo acentuadamente”, escreveu Edward Moya, analista de mercado financeiro da Oanda.

No leilão de NTN-B, o Tesouro vendeu 1,105 milhão de títulos, ou quase toda a oferta de 1,2 milhão, com taxas dentro do consenso. (Denise Abarca – [email protected])

17:28

 Operação   Último 

CDB Prefixado dias (%a.a) 12.80

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 12.65

Over Selic (%a.a) 12.65

CÂMBIO

Após três pregões consecutivos de queda, em que acumulou baixa de 3,55%, o dólar encerrou a sessão desta terça-feira (24) em leve alta, no patamar de R$ 4,81. O pregão foi marcado por muita instabilidade, com a divisa trocando de sinal ao longo do dia, em meio à oscilação da moeda americana no exterior e a ajustes de posições no mercado futuro local.

Pela manhã, o dólar desceu até a mínima de R$ 4,7765 (-0,60%), com ambiente positivo para commodities e valorização de divisas emergentes pares do real. Houve também relatos de fechamento de câmbio por exportadores. A alta de 0,59% do IPCA-15 de maio, acima da mediana de Projeções Broadcast (0,45%), leva o mercado a projetar extensão do ciclo de aperto monetário e taxa Selic perto de 14% – o que, em tese, aumenta a atratividade das operações de carry trade (que exploram diferencial de juros entre países).

A onda vendedora perdeu força no fim da manhã e o dólar não só trocou de sinal como correu até a máxima de R$ 4,8553 (+1,00%), com investidores ajustando posições diante da piora do ambiente externo. As taxas dos Treasuries acentuaram a queda após dados fracos do mercado imobiliário americano reacenderem temores de recessão nos Estados Unidos.

Depois uma tarde de instabilidade, em que oscilou entre R$ 4,79 e R$ 4,82, o dólar encerrou o dia cotado a R$ 4,8123, em alta de 0,14%. Operadores notam que o giro do contrato de dólar futuro para junho, principal termômetro do apetite por negócios, foi mais robusto hoje (acima de US$ 15 bilhões).

O analista de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, ressalta que o dia foi marcado por muita volatilidade, o que mostra um mercado sem convicção e mais suscetível a operações especulativas intraday. “Não houve um fato que pudesse indicar uma tendência para o dólar. Nem mesmo o IPCA-15, que sugere provavelmente mais altas da taxa de juros, mexeu muito com o mercado”, afirma Gusmão.

Após o movimento recente de queda do dólar, a taxa de câmbio tenta encontrar um patamar de acomodação. Contam a favor do real a taxa de juros doméstica gorda e provável manutenção de preços das commodities em níveis elevados, com relaxamento de medidas sanitárias na China e disposição do governo chinês em estimular a atividade. De outro lado, episódios de aversão ao risco, diante de temores de “estagflação”, e um dólar globalmente forte em razão da alta de juros nos EUA jogam contra a moeda brasileira. Por ora, a corrida presidencial ainda não tem papel relevante na formação da taxa de câmbio, mas analistas dizem que a volatilidade deve aumentar à medida que o pleito se aproximar.

O índice DXY – que mede o desempenho do dólar frente a seis divisas fortes – operou em queda firme ao longo do dia, ao redor dos 101,700 pontos, em nova rodada de valorização do euro e busca pelo iene. A presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, disse hoje, no Fórum Econômico Mundial em Davos, que a instituição não tem pressa em subir os juros. Ela pontuou, contudo, que a política monetária da zona do euro está em “um ponto de inflexão”. As perspectiva são de uma primeira alta dos juros na região em julho, após o BCE encerrar seu programa de compra de ativos.

Para o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, a apreciação recente do real se deu sobretudo pelas notícias positivas vindas da China, com reabertura econômica e anúncio de estímulos monetários e fiscais. O ambiente externo, contudo, ainda é conturbado com a perspectiva de ajuste mais rápido da política monetária americana e seus possíveis impactos na atividade, ressalta.

As vendas de moradias novas nos Estados Unidos caíram 16,6% em abril na comparação com março, bem acima da previsão dos analistas (-1,7%). Já o índice de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) composto dos EUA, que engloba os setores industrial e de serviços, caiu de 56 em abril para 53,8 em maio, atingindo o menor nível em quatro meses, embora ainda indique expansão.

“Vimos um movimento de fuga do risco hoje, com as taxas dos Treasuries caindo e as bolsas em Nova York sem força”, afirma Lima, acrescentando que a nova postura do BCE contribuiu para dar algum alento ao euro e abriu espaço para uma moderação do índice DXY, após uma forte rodada de fortalecimento.

Na visão de Lima, o patamar dos preços das commodities e a taxa de juros doméstica elevada justificam uma taxa de câmbio no patamar de R$ 4,80, mas não dão sustentação a apostas de que a divisa possa retornar a R$ 4,60. Além do ambiente externo conturbado, com dúvidas sobre a extensão do aperto monetário nos EUA e o fôlego da economia chinesa, há ainda a incerteza provocada pelas eleições. “Não me parece que o dólar vai passar imune pelo debate eleitoral. Devemos ver muita volatilidade”, diz. (Antonio Perez – [email protected])

17:30

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 4.81230 0.1436 4.85350 4.77650

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 4829.000 0.06216 4863.500 4785.500

DOLAR COMERCIAL 4844.000 -0.40701 4875.000 4840.000