ATIVOS LOCAIS FICAM SEM DIREÇÃO, DIVIDIDOS ENTRE EXTERIOR POSITIVO E CAUTELA COM PEC

Os ativos domésticos ficaram divididos entre algum otimismo no mercado externo e notícias sobre a votação da PEC dos Precatórios, que ora traziam alívio, ora cautela. Até por isso, não sem alguma volatilidade, enquanto os juros experimentaram melhora, o dólar voltou a subir e a Bolsa ficou de lado. No caso da renda variável, dados positivos da China deram impulso às commodities, favorecendo papéis ligados a matérias-primas, como os de mineração e siderurgia. Além disso, sinais de que um aumento de juros nos EUA ainda deve demorar, vindos de dirigentes do Fed, ajudaram a puxar os ganhos moderados vistos em Wall Street, em mais um pregão de recordes para os principais índices. O desempenho, contudo, foi limitado pelas incertezas sobre a PEC dos Precatórios, depois que a ministra Rosa Weber, do STF, pediu explicações sobre a votação do projeto em primeiro turno na Câmara. Ao mesmo tempo, o presidente da Casa, Arthur Lira, garantiu a votação em segundo turno será amanhã, o que aplacou um pouco do sentimento de cautela. No fim, após altas e baixas, o Ibovespa terminou com pequena baixa de 0,04%, aos 104.781,13 pontos. Os juros futuros, por sua vez, refletiram a expectativa de que a PEC caminhe para se resolver amanhã na Câmara, o que propiciou queda das taxas intermediárias e longas. Não é que os investidores passaram a gostar da proposta. Mas a leitura é de que, se não for aprovada, a solução para pagar o Auxílio Brasil de R$ 400 pode ser via créditos extraordinários, o que seria ainda pior para o quadro fiscal. Enquanto isso, a inflação salgada, como mostrou hoje o IGP-DI, e declarações do diretor de Política Monetária do BC, Bruno Serra, admitindo que, se necessário, o aperto da Selic pode ser maior do que o de 1,5 ponto porcentual, puxaram as taxas curtas, que já precificam alta de 2 pontos para a taxa básica em dezembro. Até porque, o dólar segue em patamares elevados. Hoje, a divisa até ficou menos pressionada após Lira falar sobre a votação da PEC, mas a incerteza sobre o que vem pela frente em relação a essa PEC, tanto no que diz respeito ao pedido de Rosa Weber quanto sobre a votação no Senado, ainda pesou mais. Assim, o dólar teve avanço de 0,33%, a R$ 5,5410.

BOLSA

Desempenho recorde da balança comercial da China em outubro e expectativa positiva para aprovação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara dos Deputados, amanhã, contribuíam para que o Ibovespa, mesmo sem muito fôlego, ensaiasse continuar no positivo nesta abertura de semana, buscando estender a recuperação da anterior, quando acumulou leve ganho de 1,28%. No meio da tarde, contudo, o desempenho positivo das ações de commodities, em especial Vale ON (+5,44%, maior ganho da carteira na sessão), foi insuficiente para carregar o índice adiante, em dia negativo para o setor financeiro, o de maior peso no Ibovespa – destaque para perda de 2,30% em Bradesco PN e de 1,98% na ON do banco, ambas na mínima do dia no fechamento.

Assim, após ter chegado a oscilar de volta para o positivo, o Ibovespa fechou perto da estabilidade, mas em viés negativo (-0,04%), aos 104.781,13 pontos, entre mínima de 104.182,49 e máxima de 105.678,85 pontos, saindo de abertura aos 104.824,32 pontos. Fraco, o giro financeiro ficou em R$ 25,1 bilhões nesta segunda-feira. No mês, o Ibovespa acumula ganho de 1,24% – no ano, cede 11,96%. “Poucos negócios na sessão, com giro bem fraco, e rotação das ações domésticas, como as de varejo, para os cavalos mais robustos, como Vale e Petrobras (ON +1,65%, PN +1,04%). Ibovespa quase no zero a zero, ainda travado pelo fiscal apesar dos descontos na Bolsa”, diz Charo Alves, especialista da Valor Investimentos

“A decisão da ministra (do Supremo Tribunal Federal) Rosa Weber de suspender o pagamento de emendas de relator ao Orçamento – modalidade de transferência de recursos aos parlamentares usada pelo governo para negociar com a base de apoio – adiciona incertezas ao cenário”, aponta em relatório a equipe de research da XP, observando também que a liminar da ministra “será submetida ao plenário virtual da corte, com decisão esperada até o fim da terça-feira”.

Na tentativa de tentar fazer com que o tema avance, Lira agendou encontro no fim da tarde de hoje com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux, para discutir o chamado “Orçamento secreto”, na esteira da suspensão temporária por parte da ministra do STF. Em entrevista nesta segunda-feira ao Papo com Editor, do Broadcast Político, o presidente da Câmara disse não acreditar que o Supremo Tribunal Federal irá paralisar a votação da PEC.

Contudo, a decisão de Rosa Weber de suspender as emendas do relator e cobrar por explicações da mesa diretora e do presidente da Câmara sobre a autorização para deputados participarem remotamente da votação em primeiro turno lança alguma dúvida no cenário, ainda que permaneça a expectativa de que o segundo turno venha a ser realizado amanhã, conforme programado por Lira.

Ainda em relação à PEC dos Precatórios, a XP aponta que “os principais riscos, em caso de atraso, vão na direção do fortalecimento de um plano B, alternativo à PEC que abre espaço no Orçamento de 2022, para assegurar o pagamento do Auxílio Brasil em dezembro, que poderia envolver outras modalidades de pagamento fora do teto de gastos”.

“O Brasil está numa bolha de problemas, então acaba se olhando muito para o que está acontecendo aqui dentro, e menos pra fora – nos Estados Unidos, as coisas estão calmas, com os índices refletindo os resultados corporativos, e nem a confirmação do ‘tapering’ assustou. Apesar da necessidade de se aprovar a PEC parecer óbvia, o governo tem encontrado dificuldades. Se falhar agora na PEC, o sinal será muito ruim em termos de governabilidade, sobre o que virá adiante, com enfraquecimento do governo (em relação à capacidade de condução da agenda)”, diz Rodrigo Knudsen, gestor da Vítreo.

Pela manhã, a leitura do IGP-DI (+1,60%, vindo de -0,55%) mostrou aceleração da inflação no atacado em outubro (+1,90%), que havia mostrado retração (-1,17%) no dado do mês anterior – assim, os DIs curtos subiram, na semana em que o mercado aguarda a divulgação, na quarta-feira, do IPCA de outubro, outro fator acompanhado de perto pelos investidores.

“Muito do cenário sobre inflação e juros já foi para o preço dos ativos, mas a cada nova notícia, boa ou ruim, há algum ajuste. Houve um fluxo real de resgates e não há força compradora para uma retomada no momento, então o Ibovespa fica mais acomodado apesar dos preços baratos, que favorecem as aquisições com foco no longo prazo. Mas os juros estão subindo também, voltando a ficar mais atraentes”, dando opção para o investidor com menos exposição a risco, em momento de elevada incerteza, observa Knudsen.

Na ponta do Ibovespa nesta segunda-feira, além da Vale ON, destaque para Usiminas PNA (+4,56%), Cogna (+4,48%), Cielo (+4,37%) e Gerdau PN (+3,84%). Na face oposta do índice, Banco Inter (Unit -7,30%, PN -7,29%), Americanas ON (-6,49%) e Banco Pan (-5,82%). (Luís Eduardo Leal – [email protected])

18:21

Índice Bovespa   Pontos   Var. %

Último 104781.13 -0.04112

Máxima 105678.85 +0.82

Mínima 104182.49 -0.61

Volume (R$ Bilhões) 2.51B

Volume (US$ Bilhões) 4.51B

18:23

Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. %

Último 105400 0.10923

Máxima 106470 +1.13

Mínima 104350 -0.89

MERCADOS INTERNACIONAIS

Às vésperas da divulgação de novos dados de inflação nos Estados Unidos, dirigentes do Federal Reserve (Fed) insistiram hoje na análise de que a recente escalada dos preços no país é temporária, embora já admitam que o movimento se provou mais acentuado do que o esperado. A avaliação justifica a percepção de que o BC americano será cauteloso no processo de aumento de juros, o que impôs pressão ao dólar no mercado internacional. A fraqueza da divisa norte-americana forneceu combustível ao petróleo, também de olho no aumento dos preços pela petroleira estatal saudita. Em Wall Street, as bolsas de Nova York com ganhos moderados, em novos recordes históricos, com ações ligadas à infraestrutura entre os destaques, após aprovação de pacote trilionário de investimentos no setor pelo Congresso dos EUA. Os juros dos Treasuries avançaram, depois de um leilão do Tesouro americano com demanda fraca.

Gargalos nas cadeias produtivas, valorização de commodities e desequilíbrios entre oferta e demanda continuam a impulsionar a inflação ao redor do mundo. A distrital do Fed em Nova York divulgou uma pesquisa que mostrou que a mediana das expectativas inflacionárias nos EUA para daqui a um ano subiu de 5,3% em setembro para 5,7% em outubro, no maior nível da série histórica.

Entre representantes do Fed, o diagnóstico predominante ainda é de que os preços vão moderar em 2022 e, portanto, não exigem pressa no aumento dos juros. Hoje à tarde, o presidente da distrital da instituição na Filadélfia, Patrick Harker, disse não acreditar que os Fed Funds serão elevados antes do fim do tapering, como é conhecido o processo de retirada das compras de ativos pelo BC dos EUA. Já o líder da regional de Chicago, Charles Evans, destacou que o período de juros baixos deve persistir por um longo tempo.

Pela manhã, o vice-presidente Richard Clarida comentou que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) está longe de considerar elevar a taxa básica, porém reconheceu que os riscos de inflação no momento são de alta. James Bullard, da distrital de St. Louis, por sua vez, afirmou que não espera três ou quatro aumentos em 2022, mas disse que o Fed pode ser obrigado a “agir mais rápido”, a depender da trajetória dos preços. Do outro lado do Atlântico, ministros das finanças da União Europeia discutiram hoje o avanço na inflação no bloco.

As perspectivas apresentadas pelo Fed para a política monetária pesaram sobre o dólar hoje. O índice DXY, que mede a variação da divisa americana ante uma cesta de seis rivais fortes, fechou em queda de 0,29%, a 94,049 pontos. Na visão do Commerzbank, a tendência da moeda dos EUA será ditada pelos dados de índices de preços ao produtor e ao consumidor, que saem amanhã e na quarta-feira, respectivamente. “Uma queda forte na inflação provavelmente será negativa para o dólar, um claro aumento será positivo”, prevê.

O pulso fraco da moeda norte-americana hoje impulsionou as commodities. O petróleo WTI para dezembro fechou em alta de 0,81% (US$ 0,66), a US$ 81,93 o barril, na New York Mercantile Exchange (Nymex), e o Brent para janeiro subiu 0,83% (US$ 0,69), a US$ 83,43 o barril, na Intercontinental Exchange (ICE). A analista Louise Dickson, da Rystad Energy, explica que a decisão da Saudi Aramco de aumentar os preços da commodity ajudou a sustentar as cotações.

Para Dickson, a aprovação do pacote de investimentos em infraestrutura pela Câmara dos Representantes em Washington também esteve por trás do rali. Depois de meses de intensas negociações, o Congresso finalmente enviou para a mesa do presidente Joe Biden o texto que prevê gastos na casa de US$ 1 trilhão para a modernização de pontes, rodovias, portos, entre outros.

O aval à pauta forneceu apoio aos papéis ligados ao setor em Wall Street. A construtora D.R. Norton ganhou 0,23% e a gigante da siderurgia Nucor saltou 3,57%. Os negócios acionários no geral, contudo, tiveram desempenho mais tímido, embora o viés positivo tenha predominado. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,29%, a 36.432,22 pontos; o S&P 500 avançou 0,09%, a 4.701,72 pontos; e o Nasdaq se elevou 0,07%, a 15.982,36 pontos – os três nas máximas históricas. A ação da Tesla perdeu 4,92%, após o CEO da empresa, Elon Musk, sugerir que seguirá os resultados de uma enquete em seu Twitter que pedia a venda de 10% das ações da companhia.

Na renda fixa, os retornos dos Treasuries avançaram: por volta das 18h, o juro da T-note de 2 anos subia a 0,446%, o da T-note de 10 anos, a 1,495% e o da T-bond de 30 anos, a 1,886%. Agora à tarde, um leilão de US$ 56 bilhões em T-notes de 3 anos do Departamento do Tesouro dos EUA teve juro de 0,750% e demanda abaixo da média, de acordo com o BMO Capital Markets. (André Marinho – [email protected])

JUROS

A curva de juros continuou desinclinando nesta segunda-feira, com taxas curtas em alta e as longas em baixa, numa reação clássica ao aumento da expectativa de aperto na Selic combinado à esperança de que a Câmara vote, e aprove, amanhã em segundo turno a PEC dos Precatórios, o que afastaria o cenário fiscal mais temido pelo mercado – créditos extraordinários e novo estado de calamidade. A trajetória ascendente da ponta curta teve respaldo das novas revisões em alta para o IPCA e Selic na pesquisa Focus e entrevista do diretor de Política Monetária do Banco Central, Bruno Serra, admitindo que, se necessário, o aperto da Selic pode ser maior do que o de 1,5 ponto porcentual indicado na ata do Copom. Na precificação da curva, a aposta em elevação da taxa básica em 2 pontos porcentuais na reunião de dezembro já é praticamente consenso.

Vale destacar que a movimentação das taxas se deu hoje num ambiente de liquidez fraca nos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI). O DI para janeiro de 2023, normalmente o mais líquido, girou 405 mil contratos, cerca de 45% da média diária dos últimos 30 dias, que é de 911.704, fechando com taxa de 12,21% (regular) e 12,25% (estendida), de 12,055% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2025 subiu de 12,126% para 12,16% (regular) e 12,13% (estendida). O recuo na ponta longa conseguiu levar alguns contratos a finalmente fechar abaixo dos 12%, caso do janeiro de 2029, que terminou a regular em 11,97% e a estendida em 11,94% (estendida), de 12,073% na sexta. O DI para janeiro de 2027 encerrou em 12,02% (regular) e 11,98% (estendida), de 12,093%.

A primeira parte dos negócios foi bastante tumultuada e as taxas chegaram a subir 40 pontos-base em alguns trechos, em reação às revisões na Focus e ameaças à votação da PEC depois que a ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Rosa Weber, decidiu suspender temporariamente repasses do governo a parlamentares da base aliada por meio do orçamento secreto e que teriam assegurado a aprovação da PEC em primeiro turno. A princípio, o imbróglio poderia emperrar a tramitação, na medida em que um julgamento no plenário virtual vai revisar a ordem liminar amanhã, data em que estava prevista a votação dos destaques e o segundo turno.

O presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), buscou o STF para conversar com o presidente da corte, Luiz Fux, sobre o assunto. Ao Broadcast Político, Lira disse não acreditar em paralisação da votação em função da liminar de Weber. “Os poderes se respeitam e sabem das suas atribuições e competências”, disse. Foi a senha para a inversão da ponta longa que passou a cair.

Ao mesmo tempo, outro incentivo para a curva perder inclinação veio de uma entrevista do diretor do BC, Bruno Serra, ao veículo japonês Nikkei Ásia. Segundo ele, uma nova aceleração do ritmo de alta da taxa Selic não está descartada. “Se for necessário aumentar a taxa em mais de 1,50 ponto porcentual, nós precisaremos fazer isso”, disse Serra, em entrevista concedida na última quinta-feira (4), mas divulgada hoje.

A aceleração no ritmo de aperto está amplamente contemplada na precificação da curva, de alta de 199 pontos-base, ou praticamente 100% de chance de aumento de 2 pontos no Copom de dezembro, segundo cálculo do estrategista-chefe do Banco Mizuho, Luciano Rostagno. “Continuamos sem ver quando será o pico da inflação, que era esperado para o meio do ano, mas ainda estamos esperando arrefecer”, disse.

Na pesquisa Focus, a mediana para o IPCA de 2022 subiu de 4,55% para 4,63%, já mais perto do teto de 5% do que do centro (3,5%) da meta de inflação. Além disso, os economistas que mais acertam o resultado no médio prazo já têm mediana em 4,99%. No Top 5 de curto prazo, a projeção de 5,22% aponta para novo rompimento no próximo ano. A mediana de Selic para o fim de 2022 também foi ajustada, passando de 10,25% para 11%.

Rostagno não descarta que o movimento das taxas curtas nesta segunda esteja relacionado a uma antecipação do mercado ao IPCA de outubro, que sai na quarta-feira, e deve ser o maior para o mês desde 2022, segundo a mediana das estimativas, de 1,06%, na pesquisa do Projeções Broadcast. Em setembro, o índice mostrou inflação de 1,16%. A inflação acumulada em 12 meses deve acelerar de 10,25% para 10,46% (mediana).

O IGP-DI de outubro surpreendeu os analistas e ajudou a pressionar a curva no começo do dia. A guinada da deflação de 0,55% em setembro para inflação em outubro até era esperada, mas a taxa de 1,60% superou o teto das estimativas (1,56%). O efeito perdeu força com a leitura mais detalhada do dado. Como destacou o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, a alta mais forte se deu pela volta da inflação no IPA agrícola que acelerou 1,90% após ter recuado 1,17% no mês anterior. “Contudo os preços ao consumidor tiveram recuo relevante em relação ao mês passado saindo de 1,43% para 0,77%. Este dado sugere que talvez vejamos de fato a inflexão da curva de inflação em 12 meses apesar de todos os desafios no horizonte”, disse. (Denise Abarca – [email protected])

18:23

Operação   Último

CDB Prefixado 30 dias (%a.a) 7.98

Capital de Giro (%a.a) 6.76

Hot Money (%a.m) 0.63

CDI Over (%a.a) 7.65

Over Selic (%a.a) 7.65

CÂMBIO

Em meio às expectativas para votação da PEC dos Precatórios em segundo turno na Câmara dos Deputados, investidores retomaram posições defensivas no mercado de câmbio doméstico nesta segunda-feira (08). Em sessão de liquidez reduzida, a moeda americana fechou em leve alta, na casa de R$ 5,54, após ter encerrado a semana passada em queda de 2,19%.

As movimentações foram mais intensas na etapa matutina dos negócios, com o dólar correndo até a máxima de R$ 5,5973 (+1,35%), diante de temores de que a PEC pudesse emperrar na Câmara após a ministra do Supremo Tribunal Federal Rosa Weber decidir, na sexta-feira à noite, suspender o pagamento das chamadas emendas ao relator – tidas como principal moeda de troca do Planalto no Congresso – até apreciação do plenário da corte.

Depois da aprovação da PEC em primeiro turno na Câmara por margem estreita e a oposição de vários líderes partidários, cresceram as dúvidas em torno do sucesso da proposta. A PEC representa calote velado no pagamento de dívidas judiciais e altera a regra do teto de gastos, mas é vista como o mal menor diante da possibilidade de o governo recorrer a créditos extraordinários (fora do teto) para bancar o Auxílio Brasil.

A febre altista do dólar amainou um pouco ainda pela manhã, na esteira de declarações exclusivas do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), ao Broadcast Político. Lira garantiu que a votação da PEC em segundo turno ocorrerá nesta terça-feira (9) e disse acreditar em aprovação por um placar superior aos 312 votos do primeiro turno. “Não acredito numa paralisação de votação por uma liminar que venha a obstaculizar a votação”, afirmou Lira, em referência a pedido de liminar de deputados ao STF para barrar a tramitação da proposta. Lira também revelou que se encontraria hoje com o presidente da Corte, ministro Luiz Fux, para tratar do “orçamento secreto”.

A partir daí, o dólar se acomodou e passou a ser negociado ao redor de R$ 5,55. As mínimas da sessão vieram à tarde, quando a divisa tocou momentaneamente na casa de R$ 5,53, ao descer até R$ 5,5373. No fim do pregão, a moeda americana fechou a R$ 5,5410, em alta de 0,33%. O giro com o contrato futuro de dólar futuro para dezembro – indicativo do apetite por negócios, – foi bem reduzido, abaixo de US$ 10 bilhões.

“O mercado fechou bem na semana passada com a perspectiva de aprovação da PEC, mas foi pego de surpresa pela decisão da Rosa Weber. Houve uma corrida na abertura, mas logo a taxa se ajustou porque a PEC já está precificada”, afirma o gerente da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, crítico da interferência do STF no pagamento de emendas parlamentares. “O mercado está arisco, mas tudo indica que o dólar não tem mais força para superar R$ 5,70 no curto prazo. Deve ficar rodando na banda entre R$ 5,50 e R$ 5,70 se não tiver notícia negativa de Brasília”.

Lá fora, o índice DXY – que mede a variação do dólar frente a seis divisas fortes – operou em queda durante todo o pregão, no limiar dos 94 pontos. A moeda americana também perdeu força frente a maioria de divisas emergentes e de países exportadores de commodities, incluindo os pares do real, como o rand sul-africano e o peso mexicano.

Seguindo o tom do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, na semana passada, dirigentes do Banco Central americano passaram hoje a mensagem de que não há pressa em subir a taxa de juros. Pela tarde, o presidente do Fed de Chicago, Charles Evan, afirmou que o período de juros baixos de persistir por algum tempo, mesmo com o termino do processo de estímulos monetários (tapering) em meados deste ano.

Nas mesas de operação comenta-se que, embora tenha subindo por aqui, na esteira das tensões fiscais e políticas, o dólar parece já não ter fôlego para altas mais robustas. A avaliação é a de que já houve uma “reprecificação” da taxa de câmbio ao cenário de um governo mais “gastador” e que o ambiente externo é menos avesso ao risco.

Na avaliação do diretor de estratégia da Inversa Publicações, Rodrigo Natali, não há fatos novos para alimentar uma nova rodada de depreciação do real. “É ruim furar o teto. Mas, dado o salto na arrecadação e o momento difícil da economia, é razoável ter um benefício para as pessoas. O governo vai gastar de qualquer jeito. A PEC, por mais que seja ruim, mantém de alguma forma o teto de gastos”, afirma Natali, ressaltando, contudo, que o mercado opera ainda com um nível elevado de estresse e que a volatilidade deve seguir dando o tom aos negócios.

Além das negociações em torno da PEC, também jogaram contra a moeda brasileira hoje a piora das expectativas econômicas reveladas pelo Boletim Focus e a alta 1,60% do IGP-DI, acima da mediana das projeções Broadcast, de 1,28%. No Focus, foi revisada para cima a projeção para o IPCA deste ano (de 9,17% para 9,33%) e de 2022 (de 4,55% para 4,63%). As expectativas para a Selic em 2022 subiram de 10,25% para 11% – o que representa um aperto adicional de 3,35 pontos porcentuais em relação ao nível atual (7,75% ao ano).

Em encontro por videoconferência com integrantes do Banco Central, analistas do mercado financeiro disseram, segundo apurou o Broadcast, que a combinação entre a tensão fiscal e eleitoral no País e o aperto monetário global em 2022 pode fazer com que o dólar ultrapasse a barreira de R$ 6,0 em alguns momentos do ano que vem. (Antonio Perez – [email protected])

18:23

Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima

Dólar Comercial (AE) 5.54100 0.3314 5.59730 5.53730

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5569.500 0.17086 5621.000 5559.500

DOLAR COMERCIAL 5623.500 -0.24834 5623.500 5623.500