ATIVOS DE RISCO TÊM RALI APÓS POWELL INDICAR TENDÊNCIA \’DOVISH\’ EM COLETIVA

Eventos mais esperados da semana e, talvez, do mês, a decisão de política monetária do Federal Reserve e a coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell, ajudaram a determinar trajetórias nos mercados ao redor do planeta. Já havia desde cedo uma propensão à tomada de risco, numa percepção de que o Fed viria com uma comunicação sem surpresas do lado mais 'hawkish' - ou seja, aumentaria os juros em 75 pontos-base e manifestaria preocupações com a inflação, sem maiores compromissos além disso. Só que, em especial na entrevista de Powell, emergiram sinais 'dovish', provocando valorização forte de bolsas, moedas contra o dólar e títulos públicos. Powell afirmou que, com a elevação de 0,75 ponto porcentual hoje, para o intervalo de 2,25% a 2,50%, o Fed Fund já atinge uma faixa considerada 'neutra' e que, depois disso, a política monetária ficará 'moderadamente restritiva'. Nesse sentido, a intensidade de novos apertos seguirá dependente de dados, mas 'provavelmente será apropriado moderar' o seu ritmo. Assim, o dirigente optou por não fornecer guidance para as próximas reuniões, dizendo que o ideal agora é decidir juros a cada encontro do comitê. O monitoramento da CME a partir dos futuros de Fed funds aponta que o mercado passou a embutir 72% de chance de elevação de 0,50pp em setembro, contra 28% de 0,75pp. Ontem, as apostas eram, respectivamente, de 50,7% e 41,2%. Powell destacou também que não vê recessão econômica nos Estados Unidos e que não acha necessário provocar uma para controlar a inflação. Mais penalizado com o processo de normalização monetária em curso, o Nasdaq foi o índice com maior alta hoje - de 4,06%. Dow Jones subiu 1,37% e S&P 500 ganhou 2,62%. O Ibovespa voltou à linha de seis dígitos e rompeu a marca dos 101 mil pontos, tendo valorização de 1,67% (101.437,96 pontos). Ante a fraqueza do DXY, que cedeu aos 106,452 pontos, e ao seguido desmonte de posições no mercado futuro, o dólar à vista desceu aos R$ 5,2509 no fechamento, baixa de 1,84%. A curva de juros doméstica também teve baixa firme, com a queda maior da ponta longa, onde o DI para janeiro de 2027 voltou a ficar abaixo de 13% pela primeira vez desde o último dia 15.

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MERCADOS INTERNACIONAIS

O Federal Reserve (Fed) confirmou a expectativa majoritária e elevou os juros em 75 pontos-base, em decisão unânime. Em entrevista coletiva após o anúncio, o presidente do banco central americano, Jerome Powell, reafirmou o compromisso de combate à inflação e também que as próximas decisões dependerão dos indicadores por vir, mas também disse que 'provavelmente será apropriado moderar o ritmo das altas' e que a faixa de juros 'que acreditamos ser neutra' foi atingida. Powell falou ainda que a política monetária precisa ficar 'ao menos moderadamente restritiva', mas a leitura nos mercados foi de que o dirigente soou em geral 'dovish'. Com isso, as bolsas de Nova York renovaram máximas à tarde, o dólar perdeu força, com o índice DXY em queda, e os juros dos Treasuries em geral caíram. O dólar mais fraco colaborou para os ganhos do petróleo, com a commodity igualmente apoiada pelo relatório semanal de estoques nos EUA de mais cedo.

 

O Fed levou a faixa dos Fed funds a entre 2,25% e 2,50%, como esperado por grande parte do mercado, e reafirmou seu 'forte compromisso' em levar a inflação à meta de 2%. O BC americano também reafirmou seu plano de reduzir o balanço nos termos definidos em maio. Na coletiva, Powell disse que os dirigentes 'se movem rapidamente' para enfrentar a inflação 'muito alta', e comentou que a decisão de juros será feita a cada decisão, sem definir os próximos passos de modo tão claro. Ele ainda disse que foi atingida 'uma faixa de juros que acreditamos ser neutra', dizendo desejar uma política 'ao menos moderadamente restritiva'. Powell admitiu que atingir o almejado 'pouso suave' da economia não é algo certo e que isso se tornou 'mais desafiador', destacando que já há sinais de perda de fôlego da atividade, mas negando que o país esteja em recessão.

 

No monitoramento do CME Group, o mercado apontava majoritariamente (72,0%) no fim desta tarde para uma alta de 50 pontos-base, seguido (28,0%) por uma elevação de 75 pontos-base. Na avaliação do Commerzbank, o Fed mostra-se disposto a aceitar uma recessão, caso esse seja o preço para conter a inflação. Sobre a próxima reunião, porém, ele diz que realmente dependerá dos dados. 'Se a forte queda recente nos preços da gasolina for permanente e a inflação com isso recuar, o Fed poderá reduzir o tamanho do passo para 50 pontos-base, projeta. De qualquer modo, o banco alemão acredita em recessão no início do próximo ano nos EUA, o que faria o Fed cortar juros de novo a partir de meados de 2023.

 

Já o ING acredita que a próxima elevação de juros do Fed, em 21 de setembro será de 50 pontos-base. O banco lembra, porém, que antes disso haverá dois relatórios de empregos (payroll), dois dados de inflação ao consumidor e o simpósio do Fed de Jackson Hole, no qual os dirigentes costumam passar sinalizações importantes sobre os próximos passos na política monetária. Nesse contexto, o ING disse ver como algo não surpreendente que o Fed 'esteja sendo um pouco vago sobre seu forward guidance'. O banco acredita que Jackson Hole deve trazer um cenário mais claro.

 

Para a Oanda, os mercados veem agora 'a luz no fim do túnel' do aperto monetário, após o Fed sinalizar que será apropriado desacelerar o ritmo em algum momento. A corretora cita ainda alguns balanços positivos e avaliações sobre o consumo nos EUA como responsáveis por 'algum apoio' para as ações em Nova York, mas acredita que o quadro volátil deve persistir, 'enquanto os riscos de inflação seguem elevados'.

 

Nesta tarde, a sinalização do Fed e de Powell se traduziu em várias máximas dos índices acionários de Nova York. O Dow Jones fechou em alta de 1,37%, em 32.197,59 pontos, o S&P 500 subiu 2,62%, a 4.023,61 pontos, e o Nasdaq avançou 4,06%, a 12.032,42 pontos. Entre ações em foco após balanços depois do fechamento de ontem, Alphabet subiu 7,66% e o Microsoft, 6,69%.

 

No mercado de Treasuries, o quadro misto de mais cedo deu lugar a uma queda nos retornos, em geral. No fim da tarde em Nova York, o juro da T-note de 2 anos recuava a 2,980%, o da T-note de 10 anos caía a 2,786% e o do T-bond de 30 anos exibia alta, a 3,062%.

 

No câmbio, o dólar perdeu força em meio às declarações do comando do BC americano. O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de moedas fortes, caiu 0,69%, a 106,452 pontos. No horário citado, o dólar caía a 136,51 ienes, o euro subia a US$ 1,0210 e a libra tinha alta a US$ 1,2165.

 

Entre as commodities, o petróleo WTI para setembro fechou em alta de 2,40%, a US$ 97,26 o barril, na Nymex, e o Brent para outubro subiu 2,22%, a US$ 101,67 o barril, na ICE. O dólar mais fraco colaborou, e os contratos ganharam fôlego após o relatório semanal do Departamento de Energia (DoE) mostrar queda de 4,5 milhões de barris na semana nos estoques de petróleo, quando analistas previam recuo de 700 mil barris. Em parte do dia, porém, os riscos à atividade global chegaram a pesar e os preços oscilaram em território negativo. (Gabriel Bueno da Costa - [email protected])

 

BOLSA

Os comentários do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, foram a cereja do bolo de um dia no qual os mercados mostravam disposição para o risco desde a manhã, especialmente em Nova York, com a expectativa de que o tom do BC americano se suavizasse ante os recentes sinais de desaceleração da atividade na maior economia do globo. Assim, durante as observações de Powell, o Nasdaq, que concentra ações de “crescimento”, muito sensíveis às condições monetárias, retomou os 12 mil pontos, em alta de 4%, mantida no fechamento, enquanto, na B3, o Ibovespa recuperava os 101 mil pontos, em nível intradia não visto desde o último dia 8 (101.576,67).

 

Com o feliz desfecho da reunião do Fed, a referência da B3 subiu hoje 1,67%, aos 101.437,96 pontos, tendo chegado na máxima do dia aos 101.471,00 pontos, saindo de mínima a 99.771,55, quase correspondente à abertura (99.773,04). Contudo, o giro financeiro ainda decepciona, limitado a R$ 18,8 bilhões nesta quarta-feira de Fed. Na semana, o Ibovespa sobe agora 2,54% e, no mês, 2,94%, limitando a perda do ano a 3,23%.

 

A marca de encerramento, hoje, foi a maior desde 15 de junho, então aos 102.806,82 pontos, o dia anterior à correção que o levaria, em um primeiro momento, aos 99,8 mil e nas semanas seguintes a mínimas inferiores, até os 96 mil pontos (ou 95 mil no intradia), nos menores patamares desde o começo de novembro de 2020.

 

Na aguardada entrevista coletiva desta tarde, o presidente do Fed disse que o ritmo de aperto de juros “provavelmente” será moderado, daqui para frente. A suavização da atividade, mencionada pelo Fed no comunicado, já vinha contribuindo para a animação dos mercados, na expectativa por indicações mais “dovish” do que as dos últimos meses, de restrição acelerada das condições de liquidez pelo BC americano ante a resiliente inflação. Apesar da renovação, hoje, do compromisso de conter a elevação dos preços, Powell observou que o Fed já atingiu o nível de juros que a instituição considera “neutro” - ou seja, nem estimulativo nem restritivo à atividade econômica.

 

“O BC americano seguiu o que o mercado estava esperando e o Powell trouxe observações relevantes, especialmente sobre a moderação do ritmo de alta dos juros. Ele mencionou que os dados de consumo desaceleraram significativamente, embora as condições do mercado de trabalho continuem apertadas, a pleno emprego. Para setembro, deve vir 75 pontos-base de aumento (na taxa de referência). Os juros americanos recuaram, nos vencimentos de 2 e 10 anos, e mesmo ativos como bitcoin tiveram valorização”, diz Bruno Madruga, head de renda variável da Monte Bravo Investimentos, chamando atenção também para o fechamento na curva de juros brasileira.

 

“O aumento de 0,75 ponto porcentual foi o esperado pelo mercado para hoje. E o comunicado (logo após a decisão) também veio dentro do que se esperava. Houve menção nova, à atividade estar desacelerando um pouco, mas sem desprezar que o mercado de trabalho continua muito forte, com taxa de desemprego baixa e contratações em alta”, diz Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. “No comunicado pelo menos, não veio indicado qual seria o ritmo (de elevação) para a próxima reunião, se 0,75 ou 0,50 ponto porcentual”, acrescenta.

 

“É um espaço de tempo atípico, lá para o final de setembro (21) a próxima reunião. Há muitos dados e indicadores para sair até lá, além do evento de Jackson Hole, onde o Fed costuma mandar recados também. Acho que o plano do Fed era um comunicado mais neutro mesmo. A dúvida era para a entrevista coletiva, onde Powell tem sido mais pressionado pelos jornalistas e tem aberto um pouco seus planos”, acrescenta o estrategista.

 

Com a moderação de tom do BC americano, as ações de maior liquidez e peso no Ibovespa se alinharam em alta, após a indecisão, falta de sinal único, vista mais cedo na sessão. No fechamento, Petrobras ON e PN subiram, respectivamente, 0,65% e 1,10%, Vale ON, 0,23%, e os ganhos entre os grandes bancos chegaram a 0,65% (BB ON), à exceção de Santander (-0,46%). Na ponta do Ibovespa, a forte queda do dólar na sessão, de 1,84%, a R$ 5,2509 no encerramento, deu impulso extra às ações da Gol (+10,93%), à frente de Pão de Açúcar (+8,37%) e de Carrefour Brasil (+7,28%). No lado oposto, Telefônica Brasil (-3,21%), TIM (-1,59%) e Santander (-0,46%). (Luís Eduardo Leal - [email protected])

 

 

17:32

 

 Índice Bovespa   Pontos   Var. % 

Último 101437.96 1.67008

Máxima 101471.00 +1.70

Mínima 99771.55 -0.00

Volume (R$ Bilhões) 1.88B

Volume (US$ Bilhões) 3.54B

 

 

 

 

17:33

 

 Índ. Bovespa Futuro   INDICE BOVESPA   Var. % 

Último 102245 1.71102

Máxima 102300 +1.77

Mínima 100615 +0.09

 

 

CÂMBIO

Sinais do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, de que o ciclo de alta de juros nos Estados Unidos talvez não vá muito longe deflagraram um rali dos ativos de risco na tarde desta quarta-feira(27). Com ganhos firmes das bolsas em Nova York e tombo da moeda americana tanto em relação a divisas fortes quanto emergentes, investidores trataram de acelerar o desmonte de posições defensivas no mercado doméstico de câmbio.

 

Já em queda antes do comunicado da decisão do Fed e da entrevista coletiva de Powell, o dólar aumentou o ritmo e renovou sucessivas mínimas nas últimas horas de negócios, chegando a romper o piso de R$ 5,25, ao descer até R$ 5,2428. No fim da sessão, a moeda recuava 1,84%, cotada a R$ 5,2509 - menor valor de fechamento desde 30 de junho (R$ 5,2348). O real, que costuma apanhar mais que seus pares em episódios de aversão ao risco, hoje liderou com folga os ganhos frente ao dólar entre divisas emergentes e de países exportadores de commodities.

 

Foi o terceiro pregão seguido de baixa do dólar no mercado doméstico, que agora acumula perdas de 4,51% na semana. A valorização em julho, que chegou a superar 5% no fim da semana passada, passou a ser de apenas 0,31%. Operadores notam que já estava em curso no últimos dias uma redução de posições defensivas no mercado futuro de câmbio, dada a proximidade da formação da última Ptax de julho (dia 29) e a rolagem dos contratos que vencem em agosto.

 

Esse movimento, embalado por uma recuperação de preços de commodities, se acentuou hoje com o rali de ativos de risco. Como esperado, o BC americano anunciou alta da taxa básica em 75 pontos-base, para a faixa de 2,25% e 2,50%, e adiantou, em seu comunicado, que o ciclo de elevação dos juros prossegue. O Fed reconheceu que a atividade mostra sinais de moderação, mas pontuou que o mercado de trabalho segue robusto.

 

Mas o que mexeu de fato com os preços dos ativos foram as declarações de Powell em entrevista coletiva após o comunicado. 'Atingimos uma faixa de juros que acreditamos ser neutra', afirmou o chairman. Daqui para frente, pontuou, a política monetária precisa ficar 'ao menos moderadamente restritiva'. Provavelmente será apropriado moderar o ritmo de alta de juros, ou seja, não deve haver nova elevação em 75 pontos-base no próxima reunião de política monetária. Powell, contudo, evitou se comprometer com um forward guidance. 'Achamos que é hora de em reunião por reunião e não fornecer o tipo de orientação clara que fornecemos no caminho para os juros neutros'. Ausente da ata do encontro anterior do BC americano, a palavra recessão apareceu na fala de Powell, para quem tal cenário é inconsistente com os indicadores econômicos, em especial o mercado de trabalho.

 

O economista-chefe da JF Trust, Eduardo Velho, afirma que a fala de Powell, com a revelação de que o juro já chegou ao patamar neutro na visão do Fed, sugere que a taxa básica americana não vai tão longe. 'O mercado estava muito pessimista com o juro terminal entre o fim de maio e junho por conta da inflação muito elevada. E agora está corrigindo essa expectativa. O juro não deve passar de 3,5%', afirma Velho. 'A não ser que haja uma surpresa muito negativa com a inflação, que parece já ter feito pico, o Fed deve subir os juros em 50 pontos na próxima reunião'.

 

O economista-chefe do Banco Original, Marco Caruso, também chama a atenção para a fala de Powell de que os juros estão perto do nível neutro, após a rodada de alta recente. 'A interpretação é de que estão próximos da taxa nominal neutra estimada por eles e que, em um horizonte não muito longe, os ajustes serão moderados. Ainda que parte da justificativa para tanto seja negativa, um medo de recessão, os mercados gostaram', afirma Caruso, em nota. 'A fala soa para os ativos financeiros como um flerte com o velho jeito de ser dos bancos centrais desenvolvidos, que passaram quase 15 anos injetando liquidez'.

 

Lá fora, o índice DXY - que mede o desempenho do dólar frente a uma cesta de seis divisas fortes - apresentou forte queda e tocou mínima na casa abaixo dos 106,300 pontos, com perda de quase 1% da moeda americana frente ao euro, muito castigado nas últimas semanas. A taxa dos Treasuries de 2 anos, mais ligados às apostas para o ciclo de alta dos juros, caiu mais de 2%, passando a trabalhar abaixo da linha de 3%.

 

Velho, da Trust, classifica o movimento de hoje dos ativos de risco, em especial do dólar, como um ajuste à nova perspectiva para o ciclo total de alta de juros. Não está descartada a possibilidade, diz, de um trimestre de queda do PIB americano entre o fim deste ano e o começo de 2023, o que pode ensejar uma correção nos mercado acionários americanos e, por tabela, afetar os ativos brasileiros.

 

'A não ser que haja um movimento muito forte de apetite ao risco lá fora, o que não parece provável, não vejo o dólar voltando para o patamar de R$ 5', diz Velho. 'O lado doméstico ainda pesa muito. Está complicado do ponto de vista fiscal, já que os dois candidatos a presidente sinalizaram que vão manter os benefícios sociais no ano que vem'. (Antonio Perez - [email protected])

 

 

17:33

 

 Dólar (spot e futuro)   Último   Var. %   Máxima   Mínima 

Dólar Comercial (AE) 5.25090 -1.8377 5.35040 5.24280

Dólar Comercial (BM&F) 5.5866 0    

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5250.500 -2.00635 5354.000 5245.500

DOLAR COMERCIAL FUTURO 5299.000 -2.02459 5395.000 5296.000

 

 

 

 

 

 

 

JUROS

Os juros encerraram o dia em queda, após passarem por certa volatilidade na última hora de negócios enquanto o mercado digeria o comunicado do Federal Reserve e a primeira parte da entrevista coletiva do presidente da instituição, Jerome Powell. Na reta final, porém, se firmaram em baixa espelhando o comportamento da curva americana, assim que Powell enfatizou que a decisão de juros será feita a cada reunião, a depender dos indicadores, mas notou que 'provavelmente será apropriado moderar' o ritmo do aperto. Os eventos relacionados ao Fed mobilizaram todas as atenções do dia, com todo o noticiário e agenda domésticas hoje em segundo plano.

 

As taxas com vencimento a partir de 2024 encerraram com alívio de mais de 10 pontos-base, chegando a 15 pontos em alguns vértices. Com a queda maior da ponta longa, a taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2027 voltou a ficar abaixo de 13% pela primeira vez desde o último dia 15, encerrando em 12,96%, de 13,11% ontem. A taxa do DI para janeiro de 2025 caiu de 13,195% para 13,065% e a do DI para janeiro de 2024, de 13,782% para 13,68%. O DI para janeiro de 2023 encerrou com taxa de 13,88%, de 13,892%.

 

A primeira parte do dia até a reunião do Fed foi marcada pelo compasso de espera dos players. O mercado de juros aqui voltava a se ajustar em baixa com moderação a partir do miolo da curva, onde estão embutidos elevados prêmios de risco. Enquanto isso, a ponta curta oscilava perto da estabilidade. Grosso modo, a curva local se inspirava nos Treasuries.

 

Uma vez que o Fed endossou a aposta consensual e elevou o juro em 0,75 ponto porcentual, para a faixa entre 2,25% e 2,50%, a reação do DI foi limitada ao comunicado, com os investidores esperando as pistas de Powell sobre os próximos passos. E elas vieram.

 

Powell reafirmou o compromisso de conter a inflação e disse que outro aumento de juros 'incomumente alto' pode ser apropriado nos Estados Unidos. Por outro lado, enfatizou que a decisão de juros será feita a cada reunião, a depender dos indicadores, mas notou que 'provavelmente será apropriado moderar' o ritmo do aperto. Disse ainda não achar que será necessário que a economia entre em recessão para controlar a inflação. 'O cenário de recessão nos EUA é inconsistente com alguns indicadores atuais', disse.

 

O 'termômetro' do CME Group já mostra apostas majoritárias numa redução do ritmo de aperto do juro pelo Fed na reunião de setembro para 50 pontos-base, que aparece com 72% de probabilidade, ante 50,7% ontem. Em contrapartida, a chance de alta de 75 pontos caiu de 41,2% para 28%.

 

Para Marco Caruso, economista-chefe do Banco Original, após o comunicado, as principais dúvidas dos analistas eram se Powell optaria por sinalizar os seus próximos passos e se o medo de recessão seria citado. 'As respostas foram 'sim' e 'sim', e ambas para o lado dovish', afirma.

 

Caruso também chamou atenção para a frase de que 'estamos nos aproximando de onde precisamos estar' depois de elevações 'aceleradas' de juros. 'A interpretação é de que estão próximos da taxa nominal neutra estimada por eles e que, em um horizonte não muito longe, os ajustes serão moderados. Ainda que parte da justificativa para tanto seja negativa, um medo de recessão, os mercados gostaram', avalia, completando que a fala soa para os ativos como um flerte com o 'velho jeito de ser dos bancos centrais desenvolvidos, que passaram quase 15 anos injetando liquidez e sustentando a tomada de risco'.

 

O yield da T-Note de dois anos virou e passou a cair com força, abaixo dos 3,00%, enquanto os rendimentos de prazo mais longos reduziram o ritmo de baixa, com o do T-Bond de 30 anos passando a subir.

 

Para o Brasil, quanto mais rápido os Estados Unidos conseguirem controlar a inflação - e, se possível, com danos mínimos à economia- melhor para o Banco Central, que já tem a política fiscal dificultando sua tarefa de controlar a inflação numa economia ainda pouco permeável aos efeitos do aperto monetário.

 

'Para nossa surpresa, a maior parte dos indicadores de confiança e dos dados do mercado de trabalho continuam melhorando. Além disso, o impulso fiscal adicional concedido pelo Congresso no início deste mês coloca incerteza sobre o momento da desaceleração [da atividade]', afirmam a economista-chefe no Brasil Cassiana Fernandez e o economista Vinicius Moreira, do JPMrogan. O banco elevou hoje a projeção para a taxa Selic terminal de 13,75% para 14,0%. Além de uma alta de 0,50 ponto prevista para a reunião do Copom em agosto, a instituição prevê agora um último ajuste de 0,25 ponto em setembro.

 

Na agenda do dia, o Tesouro divulgou o relatório mensal da dívida pública de junho, que mostrou queda na participação de estrangeiros no estoque total da dívida, de 9,1% em maio para 8,9%, mas aumento do colchão de liquidez de R$ 1,108 trilhão em maio para R$ 1,221 trilhão. Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Renascença DTVM, destaca que é o terceiro maior montante da série histórica, decorrente principalmente da emissão líquida de R$ 67 bilhões em títulos no mês e do pagamento pela Eletrobras de R$ 27 bilhões do bônus de outorga.

 

Dado que a reserva encontra-se em nível acima do planejado mesmo com emissões menores recentemente, o coordenador-geral de Operações da Dívida Pública, Luís Felipe Vital, afirmou que governo não vislumbra mudanças na estratégia de financiamento em função da piora das condições de mercado. Vital ainda declarou que a cobertura do déficit exigiu menos recursos da reserva de liquidez em 2022. 'O resultado do BC veio acima do planejamento em 2022. Tivemos R$ 47 bilhões a mais em desvinculação de fundos públicos a mais em 2022. Ainda tivemos R$ 19 bilhões a mais em dividendos do que o planejado em 2022', disse. (Denise Abarca - [email protected])

 

 

17:33

 

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